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Exuberância irracional

No Público de hoje , o economista Ricardo Cabral escreve o seguinte: «No actual contexto pandémico e de “exuberância irracional” dos mercados, retirar estímulos e aumentar rapidamente as taxas de juro seria problemático.» O texto, como quase todos os que são escritos por economistas, está carregado de passagens similares. Normalmente, não perco muito tempo com este «género literário». Desta vez, porém, a frase fascina-me e preciso de a registar: a exuberância irracional dos mercados . É todo um programa. A economia é a nova religião, já o sabemos, e os economistas são os padres do nosso tempo: especialistas num mistério que não dominam, mas que procuram interpretar e transmitir aos fiéis. E quanto mais exuberantes e irracionais as interpretações, aparentemente mais «credíveis».

Procurar às escuras

E aquilo sobre o qual não devemos deixar de reflectir é a necessidade de religião que a situação faz surgir. É indício de tal, no discurso insistente dos media, a terminologia tomada de empréstimo ao vocabulário escatológico que, para descrever o fenómeno, usa obsessivamente, sobretudo na imprensa americana, a palavra «apocalipse» e invoca, explicitamente, o fim do mundo. É como se a necessidade religiosa, que a Igreja já não está em condições de satisfazer, procurasse às escuras um outro lugar de consistência e o encontrasse naquilo que é, de facto, a religião do nosso tempo: a ciência. Esta, como qualquer religião, pode produzir superstição e medo ou, em qualquer caso, ser usada para disseminá-los. Nunca como hoje se assistiu ao espectáculo, típico das religiões nos momentos de crise, de opiniões e prescrições diferentes e contraditórias, que vão desde a posição minoritária herética (também representada por cientistas de prestígio) daqueles que negam a seriedade do fenómeno até ao