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A mostrar mensagens com a etiqueta Harold Pinter

Porque imaginam o gozo

Para proteger o Estado, tudo se justifica. Também é verdade que à maior parte das qualidades sádicas, que todos possuímos, é dada rédea solta na peça [One for the Road] . O público sentiu medo - mas era medo de quê? Medo não apenas de estar na posição da vítima, mas também um medo nascido do reconhecimento deles próprios no interrogador. Porque imaginam o gozo que é ter o poder absoluto. Harold Pinter numa conversa com Nicholas Hern, Fevereiro de 1985. Tradução de João Saboga.

Aprender a ter medo

A partir de uma certa idade, passamos a vida a fazer rastreios. Como se houvesse uma coisa má dentro de nós. Ou pior ainda: nem uma dúvida quanto à sua existência apenas não sabemos onde se esconde — como no filme Tubarão . Também é para isso que existe o cinema, para aprendermos a ter medo.  ( take 2 )  Tenho dentro da cabeça muitas frases e ideias de Jorge Silva Melo sobre Pavese, Renoir, Kleist, Tati, Bohumil Hrabral, etc. etc. Por exemplo, foi com ele que aprendi a ligar o medo do Tubarão a Harold Pinter: Sim, ficaremos em minha casa, fechadinhos como o capitão na Cabina do "Tubarão" de Spielberg, com o perigo lá fora (tão pinteriana essa parte do filme...)

Anyone for cricket?

Às vezes a crítica literária marimba-se para análises e julgamentos; atira-se à matéria com tal vontade que dá origem a objectos excêntricos. A tradução do conto Bliss , de Katherine Mansfield, por Ana Cristina Cesar ou, descobri agora, os sete volumes de À Procura do tempo Perdido transformados em argumento por Harold Pinter  (com a vantagem de nunca ter sido filmado). Dr. Percepied: Well, I must be going. I have to look in to see Monsieur Vinteuil. Not in the best of health, poor man. Father: Mmmnn. Dr. Percepied: His daughter’s friend is staying with them again, apparently. Father ( grimly ): Is she? Bom, talvez já não se possa chamar a estes exercícios, crítica — mas então chama-se crítica a quê?

Influenciadores do século XX

Feliz Aniversário

Em Feliz Aniversário , de Harold Pinter, há um tipo que faz anos e cuja festa de aniversário se transforma numa espécie de paráfrase do Processo , de Kafka. Stanley, assim se chama o aniversariante, acaba preso por dois personagens (Goldberg e McCann) após um estranho interrogatório, que lembra a investigação policial a Josef K. Não é claro o «crime» de que é acusado. Também não é evidente que tipo de «autoridade» o acusa. No limite, Stanley é culpado de existir e, portanto, de fazer anos. O seu aniversário é o crime supremo. STANLEY - Lamento muito, mas esta noite não estou com disposição para festas. MCCANN - Não? Que maçada!... STANLEY - Vou sair e festejar a data tranquilamente. MCCANN - Não faça isso… (Pausa) . STANLEY - Se não se importasse de me deixar passar... MCCANN - Mas já está tudo pronto. Os convidados estão a chegar. STANLEY - Convidados? Quais convidados? MCCANN - Eu, por exemplo. Tive a honra de receber um convite. (MCCANN começa a assobiar «The Mountains Morn...