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Dos jornais VI

 

Ainda a propósito dos filmes mais recentes de Hong Sang-soo

Nos filmes mais recentes de Hong Sang-soo, Lá em Cima e A Romancista e o seu Filme , há várias sequências em que os maços de tabaco foram substituídos por cigarros electrónicos. E quase no final de A Romancista… , a personagem principal tem de fumar às escondidas, em segundo plano, e de costas para a câmara, porque a cena passa-se num local «livre de fumo». Outra personagem comenta algo até aqui impensável num filme de Hong Sang-soo: «Ela fuma muito.» Claro que nenhuma das situações representa uma concessão do realizador ao «ar dos tempos». O que acontece é o contrário. O cigarro electrónico é um objecto obviamente postiço nestes filmes. E a personagem que «fuma muito», que se afasta e vira as costas ao centro da cena, é uma justa alegoria da obra de Hong Sang-soo.

Uma cena de «A romancista e o seu filme»

Kim Junhee e Kilsoo estão a comer num restaurante sentadas junto a uma janela. Passa uma miúda na rua e fica a olhar, intrigada, vai embora, regressa. Kilsoo sai para conversar com ela. Kim Junhee aproveita  para tirar um bocado de comida da tigela de Kilsoo.  Se gosto tanto desta cena é porque acho que nada daquilo estava previsto: a miúda passou por ali por acaso e foi atraída pelas mulheres e pela câmara; Kim Min-he decidiu ir falar com ela e contar-lhe o que estavam a fazer para a convencer a sair do centro do enquadramento; e Lee Hye-yeong não resistiu a provar o bibimbap da Kim Min-he sem ela ver.  Este encadeado de acções não foi escrito por Hong Sang-soo. As três implicadas agiram por conta própria. Não foi preciso insuflar nada para tudo ter, não um significado, mas uma presença real . O cinema de Hong Sang-soo é cada vez mais isto, ah,  o vento nas árvores .