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A mostrar mensagens com a etiqueta camisa branca

Cimeira dos passos perdidos

Para além das palavras (banir os trabalhadores, saturar a resiliência, afrouxar a disrupção, etc. etc.), as agências de comunicação também deram cabo das camisas brancas. Vesti-me como Asako e afinal parece que vou para uma cimeira.

Aforismos há muitos

Agudeza , de acordo com Baltasar Gracián, é uma boa definição; ampla, com óptimas vistas. Brian Dillon aproveita o lance e escreve:  o aforismo é antes de mais algo afiado ou aguçado, aplicado com violência — mas esta violência não pode ser definitiva, tem de ser repetida uma e outra vez . Entretanto lembrei-me d’ O Vespão de Peruca e ocorreu-me ferroada . De acordo com o dicionário: picada com ferrão, mas também censura picante ou sátira. Tem qualquer coisa de wit —  podia ser usada em exclusivo pelos ingleses, como um chapéu de Ascot. Ainda tenho outra proposta, mas esta é demasiado jocosa, quase uma greguería. Apanhei-a por causa do que Cioran escreveu sobre a importância da comida em França. Aqui fica em jeito de homenagem ao filósofo, à língua e a outras delicadezas francesas:  amuse-bouche ou, melhor ainda, amuse-gueule . Um aperitivo oferecido que se come de uma só dentada. (Claro que transformar um entretém de boca numa tomada de posição filosófica não é pa...

Filosofia e vacas

Como seria de esperar — bom, como eu esperava —, logo na página 115 surge uma definição de filósofo. Dostoiévski entrega a tarefa a uma personagem um bocado avariada da cabeça ou, pelo menos, destravada. No seu primeiro encontro com Nastássia Filíppovna, Ardalion Aleksándrovitch diz: (...) Em todos os outros sentidos, vivo como um filósofo, ando, passeio, jogo damas no meu café, como um burguês que se afastou dos negócios, e leio o Indépendance . É uma imagem suave (quase roça o tema das camisas brancas), fácil de pôr em prática. Continuo a preferir a cena das vacas escrita pela Lydia Davis — mais contemporânea e exigente?

Demonstração de efeito estroboscópico

Imaginem o encontro de Ludwig Wittgenstein com Emily Dickinson. Na floresta. Ainda é madrugada. Emily está sentada num banquinho na direita alta. Junto aos pés, uma caixa com duas tesouras, post-it amarelos, canetas de várias cores, um rolo de papel celofane, uma carteira de fósforos. Ludwig entra pela esquerda baixa a assobiar uma canção de Betty Hutton. Nada de camisas brancas. Os dois vestem roupa de trabalho de tons neutros e calçam botas robustas ( para atravessar pontes com fissuras ). Ludwig traz uma garrafa termos no bolso do casaco. O centro está assinalado por um X riscado no chão. Começa a função:

Sonatina para uma camisa branca

O livro de recitações desta semana é muito divertido. Desde o início, mas principalmente as duas ultimas frases: (…) comparecer com as suas camisas, sempre muito chique, onde quer que há descamisados em perigo. Ele está sempre embarcado, mas só embarca em iates.