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A forma do homem

« (...) For Arendt, it was always the world itself that provided the matter of thought. And if she turned to the authors and texts of the past to think those matters through — to literally permeate them with thought — it was not from a need for authority, or out of longing for a dead past, but because she believed, I suspect, what George Seferis expressed poetically: As pines keep the shape of the wind when the wind has fled and is no longer there so words guard the shape of man even when man has fled and is no longer there .» Thinking without a ground; Hannah Arendt and the contemporary g of understanding (último parágrafo), de Stan Spyros Draenos.

Meteorologia e poesia

Hoje não chove, diz a meteorologia. Lavo e ponho a secar o que faz mais falta: meias e cuecas. Agora, resta esperar que o vento faça o seu trabalho. «O vento é poesia imediata », escreveu Cioran. Às duas e meia da tarde, começa a chover. Um imenso aguaceiro. Ainda que próximas, não se deve confundir meteorologia com poesia.

A nossa língua italiana

Tenho uma predilecção por ensaístas italianos. Deve ser qualquer coisa que há na língua e passa das palavras para os pensamentos. É fácil recorrer ao lugar comum da musicalidade, mas na verdade acho que não é bem uma questão de música, é antes da música. Talvez seja ar — como se corresse sempre um vento que nos impele para qualquer coisa?
O vento é importante, (...) o vento não é nada mais do que espírito.
A Iris de Alcarràs é da mesma têmpera do Bogey do Rio Sagrado . Miúdos que são como o vento.

Como uma ventania

Akhmatova, como Gogol, não gostava de possuir nada. Tudo o que lhe davam, presentes, etc., ela distribuia a torto e a direito. Um xaile que lhe tinha sido oferecido podia ser encontrado na casa de outra pessoa, apenas alguns dias depois. Gosto muito deste traço, que lembra os costumes dos nómadas, que não podiam nem queriam guardar nada, e com razão. Tudo neles é provisório por necessidade e filosofia. J. de Maistre fala de já não sei que príncipe russo que dormia em qualquer lado no seu palácio; não tinha, por assim dizer, cama fixa, pois sentia que estava de passagem. Todas essas pessoas tinham a sensação de ter entrado na vida como uma ventania. Emil Cioran, Cadernos 1957-1972

Esplanada

O sopro suave do vento agita as páginas do cadernito, pousado sobre a mesa da esplanada. As folhas em branco ondulam, uma e outra vez, como um convite, uma pergunta sussurrada. Em vão. Não tenho nada para dizer, nem um só pensamento que mereça ser escrito.

Guerra

O vento que soprou com fúria durante a noite, arrancou mais uma vez os painéis publicitários da Rua da Constituição. Há pedaços por toda a parte, misturados com guarda-chuvas partidos e galhos de árvores. O que sobrou dos anúncios pende agora das estruturas metálicas como trapos sujos e sem préstimo. Pequenos destroços da grande guerra entre a natureza e as leis do mercado.

É veneno!

Os filmes do Pedro Costa dão luta, podemos andar dias, meses, anos, a remoer em certos planos ou até mesmo em pormenores; uma palavra gritada, uma cruz que se apanha do chão. É tudo muito lúgubre, muito rico, muito condensado, muito misterioso. Trabalhamos sobre possibilidades ambíguas. Tentamos construir hipóteses de caminho. Com sorte, descobrimos que o céu é debaixo da terra. Quando Vitalina sobe ao telhado, lembra as mulheres dos filmes Ford — Maureen O’Hara com os cabelos e têmpera do fogo. Essa é a primeira impressão. O reconhecimento de uma ligação dá algum consolo, mas depressa se esvai a segurança. O que o plano tem de vigoroso não é cinéfilo nem alivia. É no sentido contrário, por isso é preciso continuar a procurar mais fundo a origem da inquietação. Talvez a tensão extraordinária dessa imagem venha do método de trabalho, do modo como a câmara responde a Vitalina. Como se todas as questões técnicas — ângulo, enquadramento, luz, sombra, vento — representassem o mesmo des

Golpe de raio

Quando escrevi sobre “Vitalina Varela” não consegui dizer nada sobre o plano em que ela sobe ao telhado. Há imagens assim; mais do que significados, têm uma energia que nos deixa a ferver por dentro e sem coragem para dar um passo. Ainda não desisti.

Fuga

O vento frio lança os ramos do plátano contra o vidro. A velha árvore parece querer abrigar-se, folha a folha, dentro do escritório. Mas talvez não seja isso. Talvez seja o contrário: um convite desesperado para sairmos e escaparmos de vez ao triste clima temperado dos gabinetes.