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O romancista e os seus amantes

Há algo paradoxal nas relações entre um romancista e os seus amantes. Enquanto escritor, sabe que a sua história tem de acabar e quer que ela acabe. Também nós, enquanto leitores, sabemos que o romance tem de acabar e queremos que acabe. «Mas ainda não!», dizem os leitores ao escritor. «Mas ainda não!», diz o escritor ao seu herói e à sua heroína. «Mas ainda não!», diz quem é amado a quem ama. E assim o alcance do desejo continua. Anne Carson, Eros. Amargo e Doce . Tradução de Tatiana Faia.

Uma assustadora retenção

— Tens razão, reconheceu Trincapregos fazendo estalar as mãos imensa. Se eu não mentisse, que me restaria? Mas os romancistas mentem mais fundo do que eu. Todos eles fazem maus livros, que fazem crer às donzelas que o amor é um viveiro do paraíso e às mulheres que o casamento é um esgoto! Mentirosos, verdadeiros mentirosos e envenenadores, todos esses distintos escritores que mostram as suas poéticas heroínas bebendo e comendo de uma maneira encantadora e trincando com um ar obstinado algumas grainhas de uva. Muito bem, meus senhores, permitam-me que me espante de que nunca nos falem das consequências dessas trincadelas obstinadas. Sim, meus senhores, desde Homero até Tolstoi, os jovens heróis e heroínas sofrem, sobretudo quando são belos, de uma assustadora retenção. Não podem mais. Por exemplo, há mais de trinta anos que uma tal menina Natacha Rostova anda a beber sem que o autor a autorize a retirar-se nem por um instante! Todos os amantes e todas as amantes de Shakespeare, de Racin...