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Na parede da Capela do Senhor do Olho Vivo, na Rua Antero de Quental, substituíram a centenária caixa de esmolas em ferro por uma coisa de plástico branco. A fé do pároco na solidez do plástico e, sobretudo, na integridade do próximo é muito impressionante. Talvez a tão apregoada crise de fé da Igreja tenha sido manifestamente exagerada.

O homem mais feliz do mundo

Ouço na rádio a notícia de que está em Portugal, para dar uma conferência, um tipo que é «considerado o homem mais feliz do mundo». Não me engano. O jornalista repetiu diversas vezes que o conferencista — não consegui reter o nome — é «considerado o homem mais feliz do mundo».  A concorrência feroz entre gurus, xamãs, feiticeiros, padres, é tão antiga como a humanidade. Mas antes era preciso provar a autoridade espiritual com milagres ou feitiços. Agora, basta afirmar que um tipo é «considerado» o homem mais feliz do mundo. E o pior é que as palavras não ganharam mais peso no domínio da fé. Pelo contrário. As palavras transformaram-se em cuspo.

Juízo perfeito

— Não é para fazer sentido, é a fé. Fé, entendes? Fé é acreditar em algo em que ninguém no seu juízo perfeito acreditaria.   Podia ser um desabafo de Cioran nos seus Cadernos , mas é Archie Bunker a dar cabo da cabeça de Edith numa série de televisão.

Há pouco, ouvi na rádio um «elemento das autoridades» dizer que a resignação e o sacrifício são coisas a que «muitos portugueses» já estão habituados durante o período pascal. A «esses portugueses» não faltará a fé para suportarem melhor o confinamento. Senti-me agoniado.

Mon Cas

Ando às voltas com Mon Cas , de Manoel de Oliveira. Em especial, a última parte do filme, que adapta o Livro de Jó . Tenho muitas perguntas. Em tempos, Oliveira explicou a escolha deste texto bíblico da seguinte forma: O substracto comum é o homem. É a humanidade. A existência do ser perante os homens e perante Deus. É a posição... a posição do homem, de um lado e de outro.  (...) E a figura de Job é como se fosse a figura da própria Humanidade, da humanidade pecadora, castigada por Deus e que tem que expiar o seu pecado. (Manoel de Oliveira - Cem Anos, p. 114.) A explicação não me satisfaz. Há qualquer coisa muito mais pessoal. Jó não será uma máscara de Manoel de Oliveira? As provações de Jó não serão uma representação dos seus filmes? A escolha do texto não será uma declaração de fé do cineasta em si próprio, no seu trabalho? Uma fé inabalável no cinema, no poder criador da arte? Uma fé à prova de todas as contrariedades? Depois disso, Jó viveu ainda cento e quarenta anos,