Ao passar, há mais de trinta anos, do romeno para o francês, Cioran fez mais do que mudar de idioma; converteu-se noutro escritor, noutro pensador. Tendo sido educado em Sibiu, situada na região saxónica, o jovem Cioran conhecia o alemão tão bem como todos os transilvanos cultos. Foi apenas muito tardiamente, no contacto com o mundo intelectual de Bucareste onde frequentou a universidade, que se familiarizou com a língua francesa. Aliás, será que se teria transformado num escritor francês sem as circunstâncias históricas e políticas que separaram as duas partes da Europa depois da guerra? Podemos perguntar-nos isso uma vez que sabemos que à sua chegada a França, deixou para trás não menos que seis livros escritos entre 1930 e 1940, dos quais o primeiro, Nos Cumes do Desespero conquistou o grande prémio da Academia Royale dedicado aos jovens autores em 1934! Surpreendido pela guerra em Paris em 1940, ficou em França a fim de cumprir aí o seu verdadeiro destino — quase um destino romen
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral