Há uma parte de mim — talvez a mais interessante — que se prende nas coisas menores do cinema. Ora são calças largas, ora é uma nódoa numa blusa (ahah, isto dá para um estudo de cinema comparativo entre Rohmer e Sang-soo). Nada que dê prestígio a uma carreira, é certo, mas estes desvios fascinam-me e divertem-me. Por exemplo, e continuando nas roupas, li ou ouvi, já não me lembro onde, que foi muito complicado eliminar o som desagradável que o casaco de Vitalina provocava quando ela se mexia. Uma questão técnica, claro. Mas eu acho que esse casaco que Vitalina teimava em usar era uma forma de obrigar o cinema a a pôr-se no seu lugar (menos vaidade e mais trabalho) — um pouco como as provocações de Vanda. Coisas de mulheres.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral