Há uns quinze anos, Michaux levava-me regularmente ao Grand Palais onde passavam todo tipo de filmes científicos, alguns curiosos, outros técnicos, impenetráveis. Para dizer a verdade, o que me intrigava não era tanto as projecções mas o interesse que lhe despertavam. Não compreendia lá muito bem o motivo de uma atenção tão obstinada. Não parava de me perguntar, como é que um espírito tão impetuoso, virado para si próprio, em perpétuo fervor ou frenesim, pode tornar-se fanático por demonstrações tão minuciosas, tão escandalosamente impessoais? Só mais tarde, ao refletir sobre as suas explorações com a droga, compreendi a que excesso de objectividade e rigor ele podia chegar. Os escrúpulos levavam-no ao fetichismo do ínfimo, da nuance do imperceptível, tanto psicológico como verbal, repetido indefinidamente com uma insistência ofegante. Chegar à vertigem pelo aprofundamento, parecia-me ser esse o segredo da sua atitude. Leia-se, n’ O Infinito Turbulento a página onde ele se diz "...