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60 euros

Ao jantar, um amigo conta-nos que coleccionou durante muitos anos todos os números dos jornais Blitz , Sete , Independente , Público , e das revistas Kapa , Sábado , Visão e Time Out . Tudo rigorosamente organizado por título e ordem cronológica, e arrumado na cave da casa dos pais. Quando o espaço na cave acabou, começou a guardar na despensa do apartamento onde vive. Há pouco tempo, o pai precisou de usar a cave. Ou ele tirava os jornais ou tudo desapareceria numa alegre fogueira. O meu amigo conseguiu vender a colecção do Blitz a outro coleccionador, manteve os números da Kapa e um ou outro jornal que considerava mais importante, e o resto acabou vendido a peso. Mais de uma tonelada de papel: 1300 quilos. 60 euros. E aqui termina a história de milhares de jornais e revistas em papel.

Papel e tinta

Artigos, crónicas, apontamentos, números, dados, estatísticas, análises das estatísticas, previsões, opiniões sobre as previsões, opiniões sobre as opiniões. E, no entanto, já quase não há tinta a pintar o papel. O que resta é a superfície brilhante e higiénica de um ecrã. Nada mais. O toque dos dedos no papel, o cheiro da tinta, punham-nos em contacto com a matéria do mundo, lembravam-nos que para cada facto existe um abismo de causas e efeitos, de fluxos e refluxos. É preciso sol, chuva, terra e tempo para criar papel. O ecrã é plano, não tem memória nem profundidade. Mas talvez seja a minha imaginação a querer exigir ao papel e à tinta respostas que não existem. Respostas que ninguém tem.