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A mostrar mensagens com a etiqueta Jornais

Dos jornais XXXVIII

As senhoras da limpeza têm um verdadeiro sentido escatológico da vida das famílias ou empresas para quem trabalham. Aprendi isso nas viagens de autocarro e em muitas conversas pedagógicas. Agora também posso juntar os partidos:  A senhora que limpava a sede do partido revela que «por vezes a sede parecia uma taberna! Rasca! Enfrascavam-se de uma maneira… Se esta gente governasse o país, eu emigrava…»  Creio que temos aqui uma definição lapidar de choldra.

Da necessidade de ler jornais

Em Les Signes Parmi Nous , Godard diz que se filmarmos um engarrafamento nas ruas de Paris e se o soubermos ver – claramente ver o lume vivo — descobrimos uma vacina para a SIDA. Os jornais são um registo desse engarrafamento. Apesar das pressões políticas e económicas a que os jornalistas estão sujeitos, oferecem-nos a mesma matéria fotográfica em diferido. Se conseguirmos devolver-lhe o movimento ( montage, mon beau souci ), um dia havemos de descobrir as vacinas.

Dos jornais XXXIV

O escândalo em Serralves não é nada que não se adivinhasse. A novidade é estar nas primeiras páginas do jornal com chamada na capa. As perguntas são cortantes e a jornalista Mariana Duarte tem a coragem de usar a palavra «capatazes» (com enorme serventia, diga-se). Quanto à entrevistada, a cena do sunset é boa pela caricatura; já o facto da candidata a directora-geral ter uma conversa prévia com a Ana Pinho mostra que Serralves não passa de uma coutada dos burgueses ricos da Foz.  Entretanto o cerco de protecção já foi montado : a celeuma à volta da saída da Isabel Pires de Lima vai passar rapidamente; tudo voltará à paz podre. 

Dos jornais XXXIII

“Esta ilha é o paraíso, é o lugar mais bonito que já vi na minha vida”, diz à Reuters Jeronimo Diana, canalizador de origem argentina, de 50 anos, que trabalha em Ibiza, a ilha espanhola conhecida como a “ilha da festa”. “Mas há um lado sombrio”, adverte. “Eu tenho um contrato de trabalho sem termo, ganho 1800 euros por mês, mas não ganho o suficiente para pagar a renda de uma casa.”  A conversa entre Jeronimo e a agência Reuters decorre num aldeamento improvisado onde cerca de 200 pessoas, quase todas trabalhadoras do sector do turismo, vivem no interior de barracas, tendas de campismo, carros, caravanas ou autocaravanas. “Can Rovi 2”, o nome pelo qual o “bairro” era conhecido na ilha, foi desmantelado pelas autoridades em Julho, obrigando os residentes a procurar novas soluções de habitação. Há, de acordo com as autoridades, cerca de mil pessoas a viver nestas condições, em Ibiza – uma realidade distante e, ao mesmo tempo, tão próxima dos mais de 4 milhões de turistas que visitam...

Dos jornais XXXII (limões e hortaliças)

«As bancas de legumes e hortaliças das Irmãs Araújo e dos Legumes da Tininha já foram abandonadas, sem que houvesse qualquer intervenção por parte da gestão para a preservação da atividade e passagem do testemunho intergeracional», acrescenta a comerciante. «Um dia destes acordamos e os legumes são apenas ali ao lado, no Continente». À hora do almoço, o Bolhão parece uma praça de alimentação cheia de turistas esfomeados. Tantas regras para os limões ... e depois descamba nisto. Mais valia o rés-do-chão em Fernandes Tomás.

Dos jornais XXX

«Traços de impressões digitais já foram detetados em esmalte húmido ou num caixão, mas é raro e emocionante encontrar uma marca de mão completa sob esta casa das almas. Esta foi deixada pelo artesão que a tocou antes que a argila secasse», observa a Universidade de Cambridge em comunicado.

Dos jornais XXIX

A palavra farsa já não serve para explicar o que se passa. Os conceitos de Hegel e Marx ficaram para trás. O presente é uma massa de acontecimentos irracionais. Nada disto é cómico.

Dos jornais XXVII

Tudo impressiona nas notícias sobre o MAL, mas o que vai ficar na minha memória é a fotografia da faca pousada sobre um naperon bordado .

Dos jornais XXVI

Dos jornais XXIV

Numa reportagem de um canal de televisão, um homem disse que o que falta aos políticos é imaginação. Já passaram uns dias, mas são essas palavras e não outras que ressoam na minha cabeça.

Dos jornais XXIII

«Ontem de manhã, dia de eleições, fui repescar uma grandiosa frase de Salgueiro Maia que devia estar escrita na pedra. Numa altura em que, no País, se questionava se o povo tinha instrução e capacidade de fazer as suas escolhas nas primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte, o Capitão de Abril veio, numa rara entrevista em 1974, simultaneamente afastar partidarismos e resumir ao que vinha. “Não há limites para as possibilidades de opção, e se o povo quiser ir para o inferno, é para o inferno que iremos”, disse ao Expresso. (...)» Mafalda Anjos, CNN.

Dos jornais XXII

Como ele refere num dos capítulos decisivos do seu livro de crónicas, “controlar a opinião pública é um factor essencial ao exercício do poder em sociedades liberais”, só existindo liberalismo com a opinião pública controlada. “Parece um paradoxo, mas não é. O poder das sociedades liberais assenta no lucro e na sua acumulação. É mais rentável perder dinheiro numa cadeia de televisões e jornais do que pagar a um sistema repressivo com juízes, polícias e prisões. A ilusão da bondade de um Estado de Direito é o mais eficaz e agradável sistema de controlo da sociedade .” Carlos de Matos Gomes — O capitão de Abril que não desarmou, por Diogo Vaz Pinto. Sol.

Dos jornais XXI

Dos jornais XX

O parágrafo sobre ter sorte com as mulheres e ficar eufórico a discutir poesia é muito divertido. Para além do tom de farsa, termina com uma imagem poderosa: a mão (sorrateira?) pousada na perna . Com a camisola certa, podia ser uma cena de filme.

Dos jornais XIX

Quando o primeiro-ministro Luís Montenegro diz que «não fez nem mais nem menos do que faz qualquer português» , está a colocar-se ao balcão do café central a piscar o olho à portugalidade . Por mais piruetas que as agências de comunicação façam, é esse rosto de chico-esperto que vai ser impresso nos cartazes.