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Tripeiros

Na lista de sobremesas de uma churrascaria da Baixa, agora maioritariamente frequentada por turistas, «Toucinho do Céu» foi traduzido por «Bacon Sky». O velho tripeiro está a morrer, mas ainda estrebucha.

Dia Mundial do Turismo

(...) O Sindicato recebeu recentemente uma reclamação sobre um hotel de cinco estrelas do Porto em que os trabalhadores saem às 23:00 e às 05:00 da manhã já têm de estar no hotel para servir os pequenos-almoços. (...)

A lei do mercado

Não há casas no Porto para os tripeiros! Não há quartos para os estudantes! Não há sequer um anexo nas traseiras para os professores! A cidade está a abarrotar de turistas e donos gulosos de alojamentos locais. No céu, há mais gruas do que gaivotas. O senhor director do jornal está chocado. Ainda não tinha reparado. Afinal, o Estado deve intervir e corrigir esta «anormalidade do mercado» (as palavras são do senhor director). O mercado tem destas coisas, pobrezinho: às vezes fica a modos que «anormal». Mas é raro.

O mar

Há uns anos, não era Abril, mas Agosto. Era o mais cruel dos meses. A cidade parecia uma longa e interminável tarde de domingo. As ruas desertas, os cafés fechados. Tudo fechado, excepto as farmácias e os supermercados. Não havia esplanadas. Não havia cinema, muito menos teatro. Os dias arrastavam-se sob o calor. Nas praias, a nortada varria toalhas, guarda-sóis, sacos de plástico — isso não mudou. Agora, a cidade está a rebentar de turistas. Ao fim da tarde, depois do trabalho, descemos até à Baixa no meio da corrente. Na esplanada do Candelabro, observamos distraídos o movimento das vagas. Maré alta e maré baixa, maré alta e maré baixa. Enquanto as gaivotas lançam os seus anzóis de cima dos telhados.

De longe

Hölderlin não visitou a Grécia. Quando queremos ressuscitar deuses mortos, não devemos frequentar o solo que eles pisaram. Só os podemos fazer reviver de longe. O turismo corta qualquer vínculo vivo com o passado. Emil Cioran, Cadernos 1957-1972

Secret Spots

Leio no jornal que uma empresa chamada «Porto Secret Spots», criada «por portuenses e para portuenses» (talvez por isso use o inglês no nome), acaba de juntar ao seu portefólio de produtos a possibilidade de visitas à Casa-Museu Fernando de Castro (Rua de Costa Cabral), em troca de 60 euros (para grupos até cinco pessoas) ou 70 euros (para grupos de seis a dez pessoas). O «Porto Secret Spots», que tem por objectivo «dar visibilidade a locais menos conhecidos no Grande Porto», «quer chamar a atenção para mais este segredo da cidade.» Para ajudar os turistas a descobrirem este «local secreto», a empresa «promete» desenvolver «um guião acessível a todos e não tão histórico.» Pretendem também que «todos os guiões dos futuros locais secretos sejam assim.»