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Vantagens do turismo

Nove da manhã, seis graus centígrados. A cidade ainda está meio estremunhada. As colunas de som da esplanada do antigo café Luso (transformado, entretanto, numa coisa de cujo nome não me lembro nem quero lembrar) espalham pela Praça de Carlos Alberto, como brasas, as notas de Stayin' Alive , dos Bee Gees.

Tripeiros

Na lista de sobremesas de uma churrascaria da Baixa, agora maioritariamente frequentada por turistas, «Toucinho do Céu» foi traduzido por «Bacon Sky». O velho tripeiro está a morrer, mas ainda estrebucha.

Dia Mundial do Turismo

(...) O Sindicato recebeu recentemente uma reclamação sobre um hotel de cinco estrelas do Porto em que os trabalhadores saem às 23:00 e às 05:00 da manhã já têm de estar no hotel para servir os pequenos-almoços. (...)

A lei do mercado

Não há casas no Porto para os tripeiros! Não há quartos para os estudantes! Não há sequer um anexo nas traseiras para os professores! A cidade está a abarrotar de turistas e donos gulosos de alojamentos locais. No céu, há mais gruas do que gaivotas. O senhor director do jornal está chocado. Ainda não tinha reparado. Afinal, o Estado deve intervir e corrigir esta «anormalidade do mercado» (as palavras são do senhor director). O mercado tem destas coisas, pobrezinho: às vezes fica a modos que «anormal». Mas é raro.

O mar

Há uns anos, não era Abril, mas Agosto. Era o mais cruel dos meses. A cidade parecia uma longa e interminável tarde de domingo. As ruas desertas, os cafés fechados. Tudo fechado, excepto as farmácias e os supermercados. Não havia esplanadas. Não havia cinema, muito menos teatro. Os dias arrastavam-se sob o calor. Nas praias, a nortada varria toalhas, guarda-sóis, sacos de plástico — isso não mudou. Agora, a cidade está a rebentar de turistas. Ao fim da tarde, depois do trabalho, descemos até à Baixa no meio da corrente. Na esplanada do Candelabro, observamos distraídos o movimento das vagas. Maré alta e maré baixa, maré alta e maré baixa. Enquanto as gaivotas lançam os seus anzóis de cima dos telhados.

De longe

Hölderlin não visitou a Grécia. Quando queremos ressuscitar deuses mortos, não devemos frequentar o solo que eles pisaram. Só os podemos fazer reviver de longe. O turismo corta qualquer vínculo vivo com o passado. Emil Cioran, Cadernos 1957-1972

Secret Spots

Leio no jornal que uma empresa chamada «Porto Secret Spots», criada «por portuenses e para portuenses» (talvez por isso use o inglês no nome), acaba de juntar ao seu portefólio de produtos a possibilidade de visitas à Casa-Museu Fernando de Castro (Rua de Costa Cabral), em troca de 60 euros (para grupos até cinco pessoas) ou 70 euros (para grupos de seis a dez pessoas). O «Porto Secret Spots», que tem por objectivo «dar visibilidade a locais menos conhecidos no Grande Porto», «quer chamar a atenção para mais este segredo da cidade.» Para ajudar os turistas a descobrirem este «local secreto», a empresa «promete» desenvolver «um guião acessível a todos e não tão histórico.» Pretendem também que «todos os guiões dos futuros locais secretos sejam assim.»