Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Manuel Gusmão

A alegria contra todas as evidências

Gosto muito desse filme do Dreyer, mas a maneira como vejo o seu final não é, necessariamente, da ordem da transcendência, mas sim da promessa, da alegria contra todas as evidências, da ideia de que embora finitos podemos ilimitar a finitude, de que há perante nós formas diferentes de desconhecido, e haverá sempre. E por outro lado, nesse final, quando ela se levanta na cama, e há um beijo, há um fio de baba que escorre da boca dela, ou uma lágrima, já não me lembro, um pequeno fluxo: aquilo é no limite ainda-terra, ela regressa à vida mas morrerá. E ela é da terra. Simplesmente o que ali encontramos é uma promessa cumprida e realizada.

Um diálogo, em breve um cântico

(…)  tem a ver com o facto de cada comunidade, unidade humana ser um diálogo, ser um projecto, como dizia o Hölderlin, e Hölderlin já é um poeta para os tempos de indigência, para quem resolve escutá-lo, e Hölderlin diria que nós somos algo ao nascer do dia, nós somos um diálogo, mas em breve seremos um cântico. Nós nascemos como um diálogo ou seja, a capacidade da linguagem em nós é inata, nós estamos preparados para a linguagem e por isso a linguagem faz-nos e ao fazer-nos nada impede que aquilo que eu faço seja partilhável. E nesse aspecto, se nós existimos nesta dupla condição de esperados sobre esta terra e de preparados para uma linguagem, como diz o Benjamin, está encontrado o quadro para pensar a relação da poesia com o mundo da História.