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E assim por diante

Da janela do Candelabro, observo um tipo que está na esplanada ao lado e que acaba de pedir vinho. O empregado traz a garrafa, serve uma pequena quantidade no fundo do copo e espera que o cliente prove. O tipo é como eu: de vinho, conhece apenas o rústico prazer de beber. Seja como for, compõe o ar mais digno possível, leva o copo à boca, bebe um bocadinho, fixa um ponto vago numa parede do largo e, finalmente, faz que sim com a cabeça. O empregado já serviu milhares de tipos como este. Ambos sabem que todos estes gestos são inúteis. Mas alguém pode estar a olhar, talvez de uma janela próxima. É preciso repetir os gestos outra vez. E outra vez. E outra vez. E assim por diante.

Sábado ao sol

Sentado na esplanada, observo os pardais a empanturrarem-se de queques e torradas, que os turistas deixaram abandonados pelas mesas. Os pardais, enquanto enchem o papo com o repasto, observam divertidos aquele enorme lagarto ao sol, a catar minúsculas migalhas entre as páginas de um livro.

Espectros

À noite, sem mesas e cadeiras, as esplanadas que ficaram do tempo da pandemia lembram palcos de teatro. Centenas de palcos espalhados por toda a cidade. Vazios, silenciosos, abandonados. Os fantasmas dos actores do passado divertem-se.

Il fiore del partigiano

Todos os dias, ao fim da tarde, aparecem dois músicos de esplanada. Um toca banjo e o outro clarinete. O segundo também canta. O repertório é quase sempre o mesmo e termina com Bella Ciao : «Una mattina mi son svegliato/ E ho trovato l'invasor.» Espalhados pelas mesas, entre cocktails sofisticados, tábuas de queijos e tostas de abacate, os turistas acompanham a plenos pulmões: «E se io muoio da partigiano/ O bella, ciao, bella, ciao, bella, ciao, ciao, ciao!»

Cadernos

Nas esplanadas, há sempre um ou outro turista a escrever em caderninhos. Na mesa ao lado, estão duas raparigas a escreverem nos respectivos caderninhos. O que escreverão elas? Também escrevo em caderninhos. Estou justamente a escrever isto num caderninho semelhante ao das raparigas que estão na mesa ao lado. E quando não estou no Porto, também escrevo. Nos lugares onde sou turista, farão a mesma pergunta a meu respeito? «O que estará aquele tipo a escrever no caderninho?» Talvez as raparigas estejam a escrever exactamente isto no caderninho delas.