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Gente com asas

CRIANÇA: Mas que ideia é essa que se te meteu na cabeça, paizinho, de arrear um escaravelho para ires até aos deuses? TRIGEU: É que fui descobrir nas fábulas de Esopo, que só gente com asas foi capaz de chegar aos olímpicos. CRIANÇA : Incrível essa história que me estás a contar! Ah, pai, pai! Um bicho fedorento como esse ser capaz de chegar até aos deuses! TRIGEU: Pois chegou sim, em tempos que já lá vão, com raiva da águia. E, por desforra, arirou-lhe com os ovos para o chão. CRIANÇA: Tu devias era arrear um Pégaso alado, para apareceres aos deuses com um ar mais trágico. TRIGEU: O pior, minha cara amiga, é que para isso tinha de arranjar rações a dobrar. Ao passo que assim, seja o que for que eu manduque, com a mesma paparoca - nem mais nem menos - encho a pança aqui ao fulano. Aristófanes, A Paz . Tradução de Maria de Fátima Sousa e Silva.

Fita-cola

Na Feira da Vandoma, compro por cinquenta cêntimos uma velha edição de Aristófanes, que inclui «As vespas» e «As aves». É uma daquelas edições populares de textos clássicos , com capa e miolo no mesmo papel, e cadernos que se vão separando com o tempo. A capa, manchada pela humidade, está presa à lombada por um fio. Em casa, tento juntá-las com fita-cola da loja do chinês. Talvez o meu Aristófanes se aguente mais uns anos com este truque vulgar. Talvez - vejo agora - esta seja a minha pobre contribuição para a «actualização» dos clássicos.