Depois de um pequeno intervalo, retomei a leitura d’ O Idiota. A quarta parte (última e conclusiva) começa com uns pressupostos teóricos do narrador, dá lugar a personagens menores para fazer tempo, e entretanto percebe-se que as coisas vão aquecer. A partir do capítulo seis, a sequência de cenas é exímia no humor e no ritmo. O diálogo entre Aglaia e o príncipe, a sós e à parte, sobre o sarau de apresentação do presumível noivo à alta sociedade é tão divertido e rico em estratagemas, caretas e equívocos linguísticos que parece filmado por Lubitsch: — Oiça, Aglaia — disse o príncipe — parece que está com muito medo de eu amanhã chumbar... nessa sociedade? — Medo? Por si? — corou toda Aglaia. — Por que havia de ter medo por si, nem que... se cobrisse totalmente de vergonha? O que me importa isso? E que tipo de linguagem é essa? O que quer dizer “chumbar”? Acho de mau gosto, uma palavra ordinária. — É uma palavra... estudantil. — Pois, estudantil! Imprestável! Já vi que amanhã, pe...
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral