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A mostrar mensagens com a etiqueta Rússia

Até que elas adormeçam

[Matthew] Guthrie descrevendo os velhos costumes da Rússia, diz: «Observa-se também nas casas dos grandes, mulheres encarregadas de contar contos, Skaski … A sua ocupação consiste em entreter suas amas até que elas adormeçam, com contos semelhantes às Mil e Uma Noites árabes, antiquíssimo costume entre os orientais.» Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português , Vol. II.

Deplorável atentado do estado russo contra a iniciativa privada

Leio no jornal que a tomada da cidade ucraniana de Soledar foi reivindicada pelo administrador do grupo de segurança privada Wagner. A declaração surgiu depois de um comunicado em que o Ministério da Defesa russo anunciava a tomada da cidade pelo exército regular. Em resposta, «o líder do Wagner, Ievgeni Prigojin, denunciou as tentativas de “roubar a vitória” à sua empresa por parte do aparelho militar russo» .

Certezas

Um rinoceronte a tecer observações sobre uma escultura de Brancusi. A ideia é de Cortázar e surge num certo livro a propósito de outra coisa. É exactamente assim que me sinto. Um paquiderme desesperado a tentar formar alguma ideia mais ou menos firme sobre estes dias sombrios. Gostava de ter as mesmas certezas dos comentadores das televisões. As mesmas opiniões sólidas, sem margem para dúvidas, dos cronistas de jornal. Não, não gostava. Ter certezas é muito pior.

Anoitece

Leio nos jornais que cidadãos europeus negros, africanos, de origem asiática e do médio oriente que tentam fugir aos tanques de Putin são barrados na fronteira por soldados ucranianos: primeiro passam os brancos. Do outro lado da fronteira, na Polónia, os mesmos refugiados são alvo de ataques xenófobos e racistas por parte de nacionalistas polacos: «segundo a polícia polaca, os agressores, vestidos de preto, agrediram grupos de refugiados não brancos, nomeadamente estudantes que tinham acabado de chegar à estação de comboios de Przemyśl.» Em Portugal, cidadãos russos são alvo de ameaças e actos de descriminação, que «chegam em forma de telefonemas, mensagens de texto ou comentários nas redes sociais». Nas televisões, os repórteres que acompanham a vaga de refugiados não se cansam de repetir que os ucranianos são «pessoas como nós», usam as mesmas roupas, os mesmos telemóveis, os mesmos carros. Não são afegãos, sírios, iraquianos ou sudaneses a fugirem em botes pelo Mediterrâneo. São «i

Guerra

Leio o que posso sobre a invasão da Ucrânia pelas tropas do governo russo e não consigo compreender. Quem ganha com esta guerra? E ganha o quê? Quem perde, sabemo-lo bem: os sempiternos perdedores, os pobres da Ucrânia, da Rússia e de toda a parte, os que não têm meios para se defender das agressões do mundo. Mas o que ganham exactamente os «vencedores»? Trata-se somente de somar mais poder e dinheiro? Se é só uma questão de poder e dinheiro, não consigo compreender. Ou há mais alguma coisa? Provar que se pode desafiar directamente a morte? Ter nas mãos o destino de um número infindável de pessoas? Ser-se deus? Jogar com a nossa estranha atracção pelo fim do mundo?

Os nossos especialistas

Abra-se um jornal, ligue-se a rádio, veja-se a televisão. Impressiona o repentino número de especialistas portugueses em história e cultura russas. No meio de todo este frenesim de conhecimento, fica-se com a certeza de que os nossos bulímicos especialistas sabem coisas sobre os russos que os próprios russos ignoram.

Rússia no Porto

Vladimiro tem nome russo, mas o apelido (e o resto, meu deus!) destrói a promessa; percebe-se logo que é um falso russo (nem sequer um comissário do Ninotchka). Já o Tiago Barbosa Ribeiro — oh, basta escolher bem o enquadramento do rosto: parece que acabou de sair de um romance de Dostoiévski, quer dizer, parece que ainda lá está; um Karamazov temperamental. Não sei se é o meu candidato, mas é a minha personagem preferida. Dele, espero uma campanha febril, declarações estrondosas, ideias para encher a alma de desespero.

Rússia

Depois de ler os primeiros capítulos das Almas Mortas , Puchkin terá comentado: «Meu Deus, como é triste a nossa Rússia!» Talvez a frase peque por defeito, apetece-me dizer. Talvez a Rússia não acabe nas fronteiras da Rússia.