Por que é que o velho marinheiro, da balada de Coleridge, mata o albatroz? Porquê? Não se sabe, responde Alberto Pimenta . Talvez por diversão, por tédio, porque estava aborrecido, porque não tinha nada melhor para fazer. Não se sabe. «Estará aqui» - pergunta Alberto Pimenta - «não só o fundo de todo este poema, como até o próprio caminho que leva à poesia? É talvez uma compulsão dessas que habita e sempre habitou o poeta.» O certo é que a bala que atravessa o corpo do inocente albatroz também condena a tripulação à morte. A natureza vinga-se. O marinheiro é condenado à morte-em-vida e à eterna compulsão de narrar a história, uma e outra vez, que é o mesmo que a reviver continuamente. Alberto Pimenta propõe uma hipótese: «Esta compulsão de quase permanentemente refazer, narrando, o próprio crime, ou falha, ou falta, ou desvio inicial, é provavelmente o arranque que leva a qualquer narração poética, que se torna assim um trabalho de vida. (...) Quer dizer que poesia que claramente o é,