Fomos ver Drive my Car , de Ryûsuke Hamaguchi. Sob a fina película do filme - a pele do filme? -, um número incontável de histórias cresce em todas as direcções. Cada personagem tem sete vidas, muda sete vezes de máscara, voa de um palco para o outro, exprime-se na sua própria língua. E, no entanto, tudo parece perfeitamente claro e transparente. Tudo está iluminado, como num milagre, como numa peça de Tchékhov. Parece que nada nos escapa, de que percebemos tudo, porque a língua do milagre, a língua de Tchékhov, é a grande língua comum, universal, o esperanto da alma e dos sentimentos. Nada mais enganador.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral