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Nunca sei o que vou encontrar na biblioteca. Hoje trouxe um livro de Antonio Di Benedetto para não me esquecer dos argentinos e Os Últimos Dias da Humanidade para não me esquecer do que nos espera. 2024 promete ser mais um ano cheio de destroços.

A biblioteca de Samuel Beckett

« Elle [la bibliothèque de Samuel Beckett] est toujours telle qu'elle était au moment de sa mort, dans son appartement du Boulevard Saint-Jacques à Paris.»  

Postal

Quando saí da biblioteca, sentei-me a apanhar sol e a ler as contracapas. A avenida das tílias parecia um corredor de um aeroporto: franceses, italianos, chineses, alemães, muitos espanhóis. Eu própria desempenhava um papel turístico:  mulher local a ler ao sol .

you make my heart sing

Reactivei as idas à Biblioteca Almeida Garrett (onde, confirmei mais uma vez cheia de vaidade e surpresa, sou reconhecida pelo nome). Para festejar o evento, trouxe Emmanuel Bove traduzido por Manuel Resende e Rachel Kushner traduzida José Miguel Silva. É um alegria pegada, não consigo perceber de qual dos quatro gosto mais.

A minha biblioteca é mais divertida do que a tua, Alberto.

Aproveitei o fim de semana de chuva e nuvens para limpar os livros. Tirando algumas colecções, autores ou temas que têm direito a uma prateleira inteira, arrumei os restantes por ordem alfabética. Às vezes tive de fazer pequenas falcatruas. Por exemplo: empurrei Guillaume Apollinaire mais para a frente para o Rui Manuel Amaral ficar juntinho ao Roberto  Arlt . Robert Walser é o escritor mais poliglota da minha biblioteca. Tenho livros em português, francês, inglês e alemão — ocupam trinta e cinco centímetros. Descobri três livros repetidos.

"Todo signo sozinho parece morto"

No sábado fui à Biblioteca entregar os livros . Deixei o Wittgenstein — perigoso, intocável — em cima do monte das devoluções. Vai entrar em quarentena. Por coincidência, "Ludwig Wittgenstein" e "Quarentena" têm o mesmo número de entradas no blogue (30). Les jeux sont faits .

São todos perigosos

Tenho andado a pensar nisto: quando devolver os livros à biblioteca, os livros vão ser considerados suspeitos. Imagino que antes de voltarem às estantes sejam recolhidos com luvas, levados para uma câmara de desinfecção, higienizados. E isso vai acontecer a todos os livros das bibliotecas que estão — por agora e sabe-se lá até quando — retidos nas nossas casas possivelmente contaminadas. São todos perigosos. Os livros à nossa semelhança.

Já leu isto tudo?

O grande leitor é aquele que compra livros sabendo de antemão que não os vai ler, mas cujo interesse e a relevância reconhece. Isso é muito mais importante  do que propriamente ter o gosto de ler os livros todos. De resto, um dos tópicos de todos os escritores é contra os filisteus que entram lá em casa e perguntam: “Ena, tantos livros! Já leu isto tudo?!” Não há ninguém que não se enfureça com essa pergunta, porque, na verdade, a biblioteca não é para ler tudo, é para ela existir. O livro na verdade não existe, o que existe é a biblioteca. Um livro nunca está sozinho. E ter muitos livros em casa é muito melhor que não ter, porque mesmo que a pessoa não os leia, fica a saber a quantidade de coisas que não conhece. Em vez de lamentarmos todos os grandes clássicos que nunca vamos ler, devemos perceber é que, no fundo, nós lemos para ter conhecimento daquilo que não conhecemos, para conhecer os limites da nossa ignorância. Ora, isso também se consegue não lendo livro nenhum, mas é preciso

Inscrição

Aquelas pessoas que escrevem um nome, uma frase, uma declaração de amor no cimento ainda fresco. Qualquer coisa que perdurará anos, décadas, até à próxima campanha de obras públicas ou até à próxima guerra. Passamos pela inscrição todos os dias e já não damos por ela. É como se não existisse. Exactamente como certos livros nas bibliotecas.

Princípio da Singeleza (ver Guedes)

Como se aproximam semanas com feriados, trouxe três livros. E como estava a cair uma chuva miudinha, não fria mas desagradável, escolhi escritores brasileiros: dois do Rubem Fonseca e um do Bernardo Carvalho. Uma das coisas que gosto nos livros emprestados é das marcas. Há livros que estão impecáveis, porque ninguém lhes pega. Outros desfazem-se. E muitos têm sublinhados, geralmente a lápis — deve ser a correspondência gráfica do falar baixinho das bibliotecas. Tive sorte, saíram-me: um sublinhado com anotações; um sublinhado com dedicatória (os do Rubem Fonseca que se presta mais a conversa e carinhos vários). Mesmo os livros mais fraquinhos de Rubem Fonseca (“Mandrake — A Bíblia e a Bengala” é bastante fraco; “Bufo & Spallanzani”, apesar do belo título que apetece dizer em voz alta e modulada, ainda está em apreciação) são sempre divertidos e muito instrutivos (gosto tanto quando ele se desvia da história e resolve escrever texto de almanaque sobre sapos, facas ou o que seja)

Coisas fora de moda

"Quarteto no outono” e “A doce pomba morreu” estão guardados em depósito . Faz sentido, sentido pymiano quero eu dizer. Como não tinha tempo para perceber se, mesmo assim, os posso trazer para casa, requisitei “Uma rapariga no inverno". É sobre uma bibliotecária. Sinto-me no centro de um conluio — não tarda começa a nevar.