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Ulisses

Na empresa onde trabalho, quando um «colaborador» regressa de umas curtas férias de duas semanas, troca beijos e abraços aliviados com todos os colegas, como um Ulisses que tivesse vivido as mais extraordinárias aventuras em dez longos anos de navegação. As fotografias nas redes sociais e o rosto bronzeado são as provas irrefutáveis dessas odisseias.

Inauguração d’Ulisses

A senhora estava muito entusiasmada porque o “Ulisses” era novo. Disse qualquer coisa do género “que bom, vou inaugurar o livro”. Decorei o verbo porque achei um bocado estranho usá-lo em relação a um livro, mesmo tratando-se de um livro de biblioteca. Se os outros dois que requisitou também eram para ela, desconfio que a inauguração vai ser uma grande festa.

Odisseia

Retomo o fio à meada e volto ao personagem de Joan Cornellà, « aquele gajo aleatório da vida real que finge que tem uma vida ok, mas que está a vender produtos de merda de bancos.» O gajo que é segurança num supermercado , o gajo que trabalha na fábrica da Renault , o gajo que não tem onde cair morto , a gaja que procura desesperadamente um amor . A gaja, o gajo, eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas. Todas as gajas e gajos que ficcionam vidas excitantes nas redes sociais como um antídoto para a doença negra dos dias. Todas as gajas e gajos que sempre ficcionaram uma outra vida como um antídoto para a doença negra dos dias. Hoje, ontem, há vinte anos, há cem anos, há milénios. E amanhã e depois, e daqui a mil anos. O «gajo aleatório da vida real» tem uma história. É Ulisses ou Telémaco. A gaja é Calipso, Circe, Atena ou Penélope. Tantas Penélopes e tantos Ulisses. Tantos quantos os homens e as mulheres que «atravessaram este vale árido», amarrados a uma infelicidade, no esforço ridí...

A história como pesadelo

- History, Stephen said, is a nightmare from which I am trying to awake. Lembrei-me do comentário de Stephen Dedalus, no  Ulisses , a propósito do texto de Jorge Almeida Fernandes, no Público de ontem: Jaroslaw Kaczynski concebe a política como “guerra civil permanente”. Regressado ao poder, relançou a guerra ideológica de 2005-2007, elegendo a História como campo de batalha. A Polónia tem uma história trágica. E o PiS sabe usá-la. A História serve para “fazer a guerra” e nomear inimigos, presentes e passados. Serve também para fornecer uma legitimação ao regime e para neutralizar a oposição. “A História é a nova religião”, diz ao Politico.eu um deputado conservador. A “Polónia heróica” é inseparável da “Polónia mártir” e deve ser uma “Polónia sem mácula”. Por isso se impõe reescrever a História.