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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2015

Sem data, sem título

Rua Mártires da Liberdade, Porto.

Mas quem é esse Filoxeno?

- Essas ideias parecem-me certas - disse Mangogul. - Porque não as torna públicas? (...) Por exemplo, não nos dirá, Sr. Adivinho, o que vira Orcotomo durante o dia quando sonhou a sua hipótese? O que sonhara o padre C... quando se pôs a fabricar o seu órgão das cores? E qual fora o sonho de Cleóbulo, quando compôs a sua tragédia? - Com um pouco de meditação consegui-lo-ia, senhor - respondeu Bloculocus -, mas reservo esses delicados fenómenos para quando tornar pública a minha tradução de Filoxeno , para a qual suplico a Vossa Alteza que me conceda o privilégio. - De boa vontade - disse Mangogul. - Mas quem é esse Filoxeno? - Príncipe - respondeu Bloculocus -, é um autor grego que foi muito entendido em matéria de sonhos. - Quer dizer que sabe grego? - Eu, senhor? De modo nenhum. - Não me disse que estava a traduzir Filoxeno e que este escrevera em grego? - É verdade, senhor; mas não é preciso entender uma língua para a traduzir, visto que só se traduz para pessoas que não a ent

Poderia ter sido escrito ontem, ou amanhã

O que é isso? Surrealismo, dadaísmo, non-sense, pós-modernismo? (…) Estamos, é claro, num mundo algo rabelaisiano, mas que se apresenta como narrativa contemporânea, sem nostalgia por um jeito de narrar antigo e supostamente mais puro e vital (…) Impressiona pensar que esse livro foi escrito em 1975: poderia ter sido escrito ontem, ou amanhã. Aqui.

Se tivesse uma fotografia percebia-se melhor

Havia já algum tempo que Goetz Hebler se sentia vigiado. Voltando-se, quando caminhava pela rua, não avistava vivalma; mas tinha a certeza de que alguém o observava. Por vezes, ainda entrevia uma sombra, uma fugaz corrente de ar, um repentino movimento nas árvores. Olhava com mais atenção e… nada. À noite, quando apagava a luz, a angústia espalhava-se como sangue no escuro. Era evidente que uns olhos odientos e maus o fitavam por detrás das sombras. Goetz cerrava os punhos, e mordia a língua. Levantava-se, passava água fria pela cara e não dormia. Não há palavras que descrevam o seu desespero. Se tivesse uma fotografia percebia-se melhor. Foi quando imaginou uma solução engenhosa: comprou um cão. Um bicho enorme e destemido, que dava pelo nome de Donatello. “Mais vale um bom companheiro do que ter muito dinheiro”, pensou Goetz, que se sentia mais confiante. Tudo parecia então correr pelo melhor. Ao fim de algum tempo, porém, o cão começou a cofiar os bigodes sem parar (era o seu tiq

Mientras con una mano le hacía upa, con la otra le pegaba al teclado

En una entrevista a propósito de su flamante libro de cuentos, Acá había un río, publicado por Nudista, el santafesino Francisco Bitar declara que las condiciones materiales de su escritura lo llevaron a adoptar la forma fragmentaria, instantánea y súbita de sus cuentos. Los escribió durante las siestas, con su hija en brazos, “mientras con una mano le hacía upa, con la otra le pegaba al teclado”. Me gustó esa respuesta, me sentí identificado con ella en mi condición de escritor–sin–tiempo–para–escribir, me pareció que Bitar transformaba sus limitaciones en virtudes y disfruté mucho leyendo el libro, que no se detiene en descripciones y parece regarlarnos el argumento de los cuentos a los que nos tiene acostumbrados: personajes que buscan su destino y se chocan contra las paredes que ellos mismos se ocuparon de levantar, ladrillo por ladrillo. Luciano Lamberti.

Poderão os bons intérpretes interpretar esta alegoria

Ouvi contar de uma donzela de alta linhagem, que depois de se ter entregue aos prazeres, se disse ir casar a Espanha. Um dos seus mais particulares amigos disse-lhe um dia, a brincar, que muito se admirava de ela, que tanto amara no levante, ir agora navegar para poente e ocidente (por a Espanha se situar a ocidente). Respondeu-lhe a dama: «Sim, ouvi dizer aos marinheiros que muito viajaram que a navegação pelo levante é muito aprazível e agradável; o que eu mesma verifiquei com a bússola que tenho em meu poder; mas dela me socorrerei quando estiver no ocidente e quiser voltar para o levante.» Poderão os bons intérpretes interpretar esta alegoria e adivinhá-la sem eu ter que a glosar. Depois destas palavras, calcule-se que orações esta donzela não rezaria a Nossa Senhora! Brantôme, As damas galantes . Tradução de Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes.

Ideia para teatro

Uma peça intitulada “O Canário Furioso”. Seria representada à porta fechada, num espaço onde se encontrassem apenas os actores (cinco ou seis, digamos). Estes seriam ao mesmo tempo intérpretes e os únicos espectadores. A peça subiria à cena durante 14 noites.

Coisas nunca ouvidas

Eu tenho por bem que coisas tão assinaladas e talvez nunca ouvidas nem vistas cheguem ao conhecimento de muitos, e não fiquem enterradas no esquecimento, porque pode ser que alguém ao lê-las encontre qualquer coisa que lhe agrade, e deleitem aqueles que não as puderam aprofundar. Lazarilho de Tormes. Tradução de Ricardo Alberty. Próximo sábado, 10 de Outubro, pelas 17h00, no Gato Vadio.

Obra de um ajudante da gráfica

Francisco Rico chega a várias conclusões, nas quais pareceria ter colocado o ponto final para diversas questões que alimentaram a polémica sobre o Lazarilho ao longo do século XX. Assim:   a) a primeira impressão do texto teria ocorrido entre 1552 e 1553, muito provavelmente em Burgos, na mesma gráfica de Juan de Junta, o impressor da edição de Burgos de 1554; b) Juan de Junta teria tido inicialmente acesso ao manuscrito do autor do Lazarilho, que não conteria nem a divisão em “tratados” nem as epígrafes dos mesmos; mais ainda, o texto não teria tido sequer um título. Este, bem como as epígrafes e a divisão, teriam sido obra de um ajudante da gráfica de Juan de Junta, que provou ter pouca imaginação na criação do título e epígrafes, bem como ter lido muito superficialmente o texto. Assim, cometeu vários despropósitos que, já nos nossos dias, não encontrariam explicação se continuassem a ser atribuídos ao autor do texto. Mario M. González, a propósito da origem do "Lazarilho d

Próximo sábado, 10 de Outubro, pelas 17h00 no Gato Vadio

No próximo sábado, 10 de Março, pelas 17h00, damos início à 5.ª Temporada das Leituras do Gato Vadio com uma sessão dedicada ao "Lazarilho de Tormes", a primeira novela picaresca da literatura espanhola. O convidado é o Filipe Zenhas Mesquita. A imagem da leitura é da autoria de Luís Nobre, da dupla lina&nando .  O Gato Vadio fica na Rua do Rosário, 281, no Porto.

Hospital

Beethoven queixa-se da sua surdez, Byron da perna mais curta, Rousseau das dores na bexiga, Camões da falta que lhe faz o olho perdido, Borges da falta que lhe fazem os dois olhos, Cervantes queixa-se do braço decepado, Dostoiévski queixa-se de estar morto.