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Limpeza

A coberto da noite, alguém pintou um grafíti anti-colonialista «de 20 metros» no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. Escândalo e comoção! As autoridades não perderam tempo e organizaram, rapidamente e em força, a limpeza do infame grafíti. O presidente da câmara tranquilizou a população: «A melhor resposta que se pode dar a quem vandaliza o património é a limpeza imediata.» Os jornais informaram que a «limpeza imediata» foi efectuada por uma «empresa especializada» e custou «2300 euros mais IVA (2829 euros, no total)». Os trabalhadores negros contratados pela «empresa especializada» limparam prontamente o grafíti anti-colonialista.

Grafíti

O grafíti que alguém tinha pintado na parede do outro lado da rua desapareceu. Veio a brigada da câmara e pintou por cima. Agora é uma simples parede de um monótono e amnésico azul. Enquanto fumo um cigarro à janela, olho com mais atenção e vejo a sombra nítida do velho grafíti por detrás da tinta camarária. Não há como evitar: parece um fantasma preso para sempre à parede, mais visível do que nunca.