O que impressiona sempre em A Regra do Jogo é a balbúrdia. Claro que Jean Renoir filma a balbúrdia com a sua habitual delicadeza e aquilo que caminha a grandes passos para o descalabro transforma-se num bailado com tutus. Mas se isso é o que nos encanta uma e outra vez por causa do ritmo musical e de qualquer coisa que não tem nome, depois de vários confrontos começamos a pensar em outros pormenores, por exemplo: talvez o mais importante do filme seja a forma como Renoir assinala os defeitos (muitos) e as virtudes (poucas) de todas as classes sociais — uma espécie de tiro de partida para um pensamento político radical.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral