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A mostrar mensagens com a etiqueta August Strindberg

Os salvadores

É verdadeiramente comovente a preocupação da extrema-direita e dos ultraliberais pela «situação a que chegaram os nossos serviços públicos». A propósito destes benignos e sensíveis defensores do estado social, ocorre-me uma passagem de Um Sonho , de August Strindberg, na qual a tripulação de um navio em perigo «grita horrorizada ao ver o seu salvador» e «atira-se ao mar, com medo dele».

Os tipógrafos conhecem o nosso estilo

- Já agora, Falk, estiveste no Teatro de Djurgården? - perguntou o alto. - Não. - É uma pena. O Lundholm e o seu grupinho de escroques actuam lá de momento. Que coisinha lamechas! Não enviou bilhetes ao [jornal] A Víbora , e quando lá fomos esta noite expulsou-nos. Mas vingar-nos-emos. Gostarias de desancar naquele suíno? Aqui tens um lápis e um papel. Intitulá-lo-ei Teatro e Música, Teatro de Djurgården ; agora, podes escrever! - Mas nem sequer vi o que a sua companhia tem em palco! - Que diabo tem isso que ver com isto? Nunca escreveste sobre coisas que não viste? - Não, nunca o fiz. Denunciei casos de corrupção, mas nunca ataquei pessoas inocentes. E não conheço a companhia. - São uns imprestáveis. Não passam de refugo! - confirmou o gordo. - Afia o lápis e espeta-o onde dói; és bom a fazê-lo. - Porque não o esfaqueiam vocês mesmos? - Porque os tipógrafos conhecem o nosso estilo e trabalham amiúde como actores secundários no teatro, à noite. August Strindberg, O salão verme

Banalidades

- Então não tem mesmo respeito nenhum pela sua arte? - Pela minha arte? Porque deveria ter mais respeito pela minha arte do que pela de qualquer outro? - Mas interpretou os grandes papéis; interpretou Shakespeare, interpretou Hamlet, não foi? Nunca se sentiu tocado na essência do seu ser ao proclamar o profundo monólogo «Ser ou não Ser?» - O que quer dizer com profundo? - Bem, profundo e penetrante! - Explique-se. O que tem de tão profundo dizer coisas como «Devo ou não matar-me? Ficaria feliz por cometê-lo se soubesse o que existe depois da morte (como qualquer outra pessoa). Mas não sabemos, por isso não nos atrevemos a tirar as nossas próprias vidas.» O que tem isso de profundo? - Bem, se o coloca desse modo... - Exactamente. Não tenho dúvidas de que pensou em tirar a sua própria vida em alguma altura, não pensou? - Sim, toda a gente o fez. - E porque não o fez? Porque, como Hamlet, não se atreveu, porque não tem a certeza do que existe depois! Estava então a ser especialm

Como seres humanos e não como livros

No seu estado parcialmente inebriado, Falk sentia-se muito bem: aquele sítio era quente, luminoso, barulhento e fumarento, e encontrava-se rodeado de pessoas cujas vidas prolongara por algumas horas e que, por conseguinte, estavam tão contentes quanto moscas reavivadas pelos raios do sol. Sentiu-se parte de uma unidade que com eles formara, uma vez que, no geral, eram infelizes, modestos e educados; percebiam o que ele dizia e, quando falavam, expressavam-se como seres humanos e não como livros. August Strindberg, O salão vermelho . Tradução de João Reis.