Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Porto

Dormir bem

Nazmul Hazari, imigrante no Porto, diz a um jornalista que em Portugal talvez não se ganhe tanto como noutros países, mas «come-se bem, bebe-se bem, dorme-se bem, vive-se bem e isso é o essencial». É a ideia mais bonita que já li sobre este país: um sítio onde se dorme bem.

Vantagens do turismo

Nove da manhã, seis graus centígrados. A cidade ainda está meio estremunhada. As colunas de som da esplanada do antigo café Luso (transformado, entretanto, numa coisa de cujo nome não me lembro nem quero lembrar) espalham pela Praça de Carlos Alberto, como brasas, as notas de Stayin' Alive , dos Bee Gees.

O pé ateu

Mudei de trabalho. Agora, do meu gabinete, que fica num antigo mosteiro beneditino, ouço o sino dos Clérigos a marcar as horas e, ao fim da tarde, pequenos concertos de carrilhão. Não consigo evitar: de repente, foge-me o pé ateu para a nostalgia do paraíso.
(...) Ora, para concluir e regressando às paragens de metrobus , Rui Moreira preferiria umas “coisas levezinhas, envidraçadas”, quase invisíveis, para não perturbar as vistas idílicas da burguesia local. Ora, talvez me aventurasse a dizer que, para Álvaro Siza, que conserva ainda um sentido profundo e social daquilo que é fazer uma cidade — ao contrário do autarca portuense —, as paragens desenhadas em betão correspondem precisamente ao gesto arquitectónico de procurar marcar e tornar visível no espaço urbano aquilo a que a classe a que Rui Moreira pertence tende a não aceitar: o facto de a cidade não ser apenas a sua propriedade exclusiva, mas de todos. Nada há de mais social e definidor do território urbano do que esses pequenos equipamentos públicos tantas vezes desqualificados (inclusive pela própria CMP). São estes, na verdade, os grandes monumentos da vida quotidiana das cidades e dos seus moradores; e não certamente as vivendas privadas endinheiradas e kitsch da Avenida do Ma...
Painéis do Porto (1963), de António Reis.

Psychopathia criminalis

A câmara do Porto tem um plano para controlar a população de gaivotas e eliminar de imediato os indivíduos «psicopatas». Estou a citar o termo usado pelos especialistas e reproduzido nos jornais.  E como se identificam as «gaivotas psicopatas»? Pelo «comportamento agressivo e repetitivo». Em tempos, durante um surto psicótico que afectou muitas aves no Palatinado, e que custou à região terríveis devastações, Oskar Panizza propôs um método mais simples e benigno: «Recolhimento em espaços amenos, tratamento suave, banhos correctamente temperados, sossego e o conselho amigo de um ornitólogo.» Além de um pouco de hiosciamina ou de brometo de potássio .

Tripeiros

Na lista de sobremesas de uma churrascaria da Baixa, agora maioritariamente frequentada por turistas, «Toucinho do Céu» foi traduzido por «Bacon Sky». O velho tripeiro está a morrer, mas ainda estrebucha.

Um turista mexeu

Notícia no jornal: «O relógio da Torre dos Clérigos, no Porto, está atrasado 40 minutos desde segunda-feira, após um turista ter mexido num dos seus veios mecânicos.»  De repente, um turista trapalhão lança toda a cidade num salto mirabolante pelo abismo do tempo. Um pequeno gesto involuntário e o Porto passa a ser o único lugar do mundo que avança segundo uma escala temporal diferente. 40 minutos, 40 horas, quem sabe 40 anos fora do tempo. Ou simplesmente — outra hipótese — o turista não resistiu ao apelo erótico do veio mecânico do relógio dos Clérigos e tocou-lhe. Com a ponta dos dedos, com a mão toda, talvez.

O preço das coisas

Dois tipos falam de negócios no Piolho. Um jogador que vai ser transferido e render não sei quantos milhões. Outro que custou uma quantia faraónica e que nem sequer joga. A gestão dos activos que tem sido ruinosa. As opções de investimento que têm de ser mais ousadas. Etc., etc. O café e a meia torrada, felizmente, ainda custam o mesmo.

Os pássaros do Marquês

Um bando de publicitários decidiu pendurar nas árvores do Marquês um sistema de som que reproduz, sem descanso, o canto gravado de vários pássaros. Apesar do barulho do trânsito, o monstruoso chilreio ouve-se em toda a praça e nas ruas mais próximas. As aves de carne e osso, tomadas de pavor, voaram para longe. Nem os pardais ficaram. Espécie esquisita de gentrificação.