Bicho ruim

( Ontem e hoje outra vez. ) Dois homens corpulentos chegam à praia, espetam o tapa-vento e o guarda-sol na areia, abrem dois cadeiras e sentam-se. Cada um com o seu livro — Soren Kierkegaard, aposto.

De manhã, praia (sol, água a 20°, vento sul, neblina). À tarde, Othon . Outubro parece as férias grandes quando tudo era ainda possível, mas distante.

O Pingo Doce de Matosinhos Sul está cheio: filas para o restaurante, para pagar, para o quarto de banho. Já quase não há pão nas prateleiras.

Manhã de praia. A água é gelada, arrepia os ossos. Boa para amores de Verão.

De manhã, praia (vento sul). Ao fim da tarde, Ozu (saké, cerejas). Doce engano, parece que o mundo vive em harmonia.

Uma imagem interior? — As ondas desfazendo-se na praia.

Abertura da época balnear em Nápoles.

— Será aceitável levar Vassili Grossman para a praia? Nem por isso. O céu azul, o mar calmo, uma brisa suave — é demasiado, toma a proporção de uma afronta. Como quando Ivan Grigorievitch entra em casa de Nikolai Andréevitch: A cara escura e enrugada do homem do reino prisional, o seu casaco acolchoado, as suas botas de soldado que pisavam desajeitadamente o soalho não condiziam com o mundo de parquê, de armários de livros, de quadros, de lustres.