Li num livro — antiquado — sobre a linguagem que uma metáfora «deve poder ser desenhada». Tudo o que se faz de «válido» em literatura desde Rimbaud, tendo sido ele o iniciador, é a negação desta definição que, verdade seja dita, só se aplica aos clássicos ou à literatura de inspiração didáctica. A metáfora coerente já passou. Dez séculos de rigor, de metáfora coerente, de linguagem esclerosada foram abolidos em poucos anos, em parte graças ao surrealismo, à moda de Rimbaud, às influências da ciência. É neste estado de linguagem deslocada que é possível traduzir pela primeira vez para francês autores até agora considerados intraduzíveis. Emil Cioran, Cadernos 1957-1972
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral