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Labirinto da liberdade

Leio no jornal que um grupo de quatro mulheres dirigiu insultos xenófobos aos organizadores e participantes de uma exposição sobre a Ucrânia, intitulada Labirinto da Liberdade , junto à Estação de Metro da Trindade, no Porto. As mulheres gritaram , entre outras infâmias, «Não queremos cá os imigrantes», «Estão na minha terra» e «Faço o que quero». Isto aconteceu ontem. Dois dias antes, um outro grupo de extrema-direita expulsou da Casa do Tempo, em Cabeceiras de Basto, dezenas de pessoas que participavam numa sessão pública de esclarecimento sobre igualdade de género e orientação sexual. Segundo o jornal , um dos insultos que os militantes de extrema-direita dirigiram às mulheres foi «ide para casa fazer sopa».

Limpeza

A insistência na limpeza. Eles querem «limpar», limpar tudo. Não é de agora, claro. Lady Macbeth continua a lavar as mãos. Lava as mãos, agora e sempre, pelos séculos fora. O sangue não sai. O oficial sádico das SS, no Porteiro da Noite , limpa o tampo das mesas, em pleno campo de extermínio, uma e outra vez. A sujidade não desaparece. Nascemos entre merda e mijo. Morremos da mesma maneira. Limpar o quê? A humanidade?

Travar navalhas com ideias

Leio no jornal as terríveis notícias sobre o esfaqueamento de Salman Rushdie, em Nova Iorque. No Irão, o jornal ultraconservador Kayhan congratulou-se com o ataque ao escritor: «Bravo a este homem valente e consciente do dever que atacou o apóstata e vicioso Salman Rushdie. (...) Beijemos a mão daquele que rasgou o pescoço do inimigo de Deus com uma faca.» O diário estatal Asr Iran escreveu: «O pescoço do diabo [foi] golpeado por uma navalha.» E o diário Khorasan titulou: «Diabo a caminho do inferno.» Na mesma edição do Público , um pouco mais à frente, leio um extenso artigo de Pedro Rios sobre o trabalho de Joe Mulhall, corajoso antifascista inglês e membro da organização Hope Not Hate . Joe Mulhall infiltrou-se várias vezes em movimentos radicais de extrema-direita para «expor o seu perigo ao grande público». Retenho estas palavras a propósito da visão «ingénua» de que o fascismo, o ódio, o racismo, a xenofobia e a extrema-direita se combatem com ideias, usando os mesmos palcos

O cão da angústia

O plano-sequência que abre Fabian — Going to the Dogs vale mais do que mil artigos de politólogos. A câmara percorre uma estação de metro de Berlim na actualidade. É o olho de um passageiro ocasional. Pode ser qualquer pessoa, posso ser eu. Sou eu a caminhar para a saída. Subo as escadas da estação em direcção à superfície. Um degrau após outro. Quando chego à rua, estou em Berlim, sim, mas em plena República de Weimar. Os sinais da ascensão do nazismo estão por todo o lado. Fazem parte da paisagem. Parecem tão naturais como a pedra dos edifícios, o ruído dos automóveis, as nuvens no céu. Neste filme, Dominik Graf não nos convida a mergulhar na história, não quer que desçamos às profundezas de Berlim como arqueólogos em busca de vestígios dos fascismos; pelo contrário, ele empurra-nos para a superfície. É à superfície que tudo se passa, aqui e agora, em carne e osso, diante dos nossos olhos. Não há fronteira entre o passado e o presente. Só temos de apanhar o metro ou o autocarro, e c

A ordem do dia

Quem supõe paradoxal que um pensamento com tintas fascistas se combine com o suporte empresarial e midiático, que se refastela hoje com as reformas liberais, é o caso de lembrar o entusiasmado apoio que Hitler recebeu das empresas alemãs – sem o qual, certamente, não teria chegado tão longe no domínio territorial da Europa e na produção industrial do genocídio. Em A ordem do dia (Tusquets), Éric Vuillard descreve a reunião que firmou as bases deste acordo, em 1933. O que disse, Hitler, que convenceu os capitães da indústria? “Era preciso acabar com um regime fraco, afastar a ameaça comunista, suprimir os sindicatos e permitir que cada patrão fosse um Führer em sua empresa”. Marcelo Semer.