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Agora é que acaba

Espero que os direitos d’ O Passageiro e Stella Maris sejam caros que chegue para afugentar adaptações tipo Netflix. Não precisamos que nos mostrem a beleza de Alicia nem os tiques do Puto esquizóide. É preferível imaginá-los de um modo difuso e não finito — não é para isso que a literatura serve? A única coisa que se pode acrescentar ao díptico de Cormac Mccarthy é a banda sonora dos números de vaudeville:  Tom Waits a bater em latas, a fritar bacon , etc. Isso.

É uma pessoa perfeita

O Puto Talidomida mete no bolso qualquer personagem excêntrica de David Lynch. Na verdade ele nem é bem uma personagem, melhor seria chamar-lhe entidade, como Alicia diz já não sei em que página. Convém também não esquecer que se trata de uma criação da criação, quer dizer, Cormac McCarthy inventou Alice ( Alice and Bob , isso) que saca este rapaz defeituoso das profundezas do seu inconsciente puramente biológico .  O Puto domina em três campos: apresentação, discurso e artes cénicas. Num certo sentido podemos, talvez, considerá-lo um primo americano das personagens de Lewis Carroll — todas em simultâneo, encavalitadas e turbinadas. 1. Quanto à apresentação, basta citar algumas das descrições que a imagem cresce por si, bizarra e poderosa:  « O nome completo é Puto Talidomida. Não tem mãos. Só um par de barbatanas.» (...)  « Podemos falar do Puto?  Claro. Que se foda.  Toquei num ponto sensível.  Na verdade, não. Apeteceu-me ser ordinária, só isso.  Qual é a aparência dele? 

O rasto das afinidades

O que a topologia tem de fixe é que os problemas em que trabalhamos não têm que ver com outra coisa qualquer. A nossa esperança é a de que, ao resolvê-los, eles nos expliquem porque é que os formulámos, logo para começar. Procuramos o rasto das afinidades.  Stella Maris, de Cormac McCarthy. Tradução de Paulo Faria. Edição da Relógio d’ Água. Página 136.

Estames

Só agora descobri que a melhor forma de ler O Passageiro e Stella Maris não é pela ordem em que foram editados, nem ao contrário. Devem ser lidos intercaladamente, como no exemplo do Priberam : estames dispostos intercaladamente. Assim, sim, percebemos o que é o efeito estéreo em literatura.
Apesar de fazerem parte de um díptico, quando acabei Stella Maris , não consegui passar logo para O Passageiro — certos livros precisam de um bocado de película negra no fim, como os filmes de Godard ou aquela cena do Sans Soleil .

Juventude em marcha

Fico sempre espantada como é que homens tão velhos podem criar personagens tão jovens e bravias. Alicia Western é uma mulher improvável, mas é também, e sem contradição, extremamente verdadeira e apaixonante. (É da mesma têmpera da Karin de Saraband .) Dá a impressão que Cormac McCarthy guardou para o fim uma energia qualquer, uma forma diabólica de interpretar a fuga de Bach que, em português, talvez se possa traduzir por juventude em marcha.

Experiência da dupla fenda

Foi por acaso. Encontrei-o na biblioteca, na prateleira das novidades, mas era por aqui que queria começar: Stella Maris , o último livro de Cormac McCarthy. Alicia Western podia ser uma leitora (perversa?) de Cioran. Talvez até o conseguisse transformar numa equação?