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Miopia

Ontem fomos dar uma volta pelas estrada nacionais (em busca do “Milagre da Fruta” e também por saudade dos textos de Álvaro Domingues): EN 13, EN 206 e EN 14. Sem os óculos, os cartazes das autárquicas confundem-se com os cartazes das imobiliárias e vice-versa.  É outra forma de análise política.
Na última crónica, Álvaro Domingues escreveu sobre a solidão das torres. A imagem impressiona porque não a conseguimos compreender. A torre tão só, com a pequena estrada de terra batida a rodeá-la como o rabo dos gatos. Parece que vem de outra civilização, parece o monólito de Arthur C. Clarke — uma versão mais rasca do monólito, digamos assim.

Banheiras Vasconcelos e o Império dos sofás

Desconfio que o pessoal que mora ali na Marechal não vai gostar muito desta instalação da Joana Vasconcelos. A artéria mais fina da cidade transformada em rua da estrada? Só falta um sofá (XXL, vermelhão, feito de caricas da super bock) na Praça do Império para fazer pendant . Ah, se eu fosse o Álvaro Domingues (e às vezes sou), colava aqui estes versos (da arenga do Velho do Restelo, a estrofe 96 do Canto IV d’ Os Lusíadas ): — "Dura inquietação d'alma e da vida, Fonte de desamparos e adultérios, Sagaz consumidora conhecida De fazendas, de reinos e de impérios: Chamam-te ilustre, chamam-te subida, Sendo digna de infames vitupérios; Chamam-te Fama e Glória soberana, Nomes com quem se o povo néscio engana! A fotografia é de Lucília Monteiro, para a revista Visão .