Noutro dia no autocarro encontrei um jovem escritor de vanguarda (!), que me critica por não ser revolucionário, por não querer inventar nada, em suma, por não trazer nada de novo. — "Mas eu não quero mudar nada de nada", disse-lhe. Não entendeu nada das minhas palavras. Tomou-me por um modesto. Emil Cioran, Cadernos 1957-1972. Nota: Em 63 palavras, Cioran utiliza cinco vezes "rien" o que dá uma taxa de quase 9% (confirma-se: nada modesto nas orações negativas). Reduzi o texto em português para 51 palavras, mantive cinco vezes "nada" e aproximei-me dos 10%. Não sei em que teoria da tradução isto se pode enquadrar, mas gosto de ajudar Cioran a provar o seu ponto.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral