Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Eugenio Montale

Não é ninguém

O borá começava a soprar. Eu e B. tínhamos acabado de sair do museu Revoltella e dirigíamo-nos para o café Garibaldi, quando um moço alto e magro, com um impermeável de gabardina meio revirado pelo vento, passou apressadamente ao nosso lado, cruzando-se connosco, e se voltou para cumprimentar com um aceno de mão. Não tinha nada de especial, no entanto perguntei a B.:  - Quem é? - Oh, não é ninguém - respondeu B. indiferente -, um futurista. Eugenio Montale, A borboleta de Dinard . Tradução de Armandina Puga e outros.

O chefe da claque

Na outra noite, no teatro, o chefe da claque devia ter adormecido. (A ópera, bonita mas não popular, favorecia o sono e tornava difícil a dosagem dos «muito bem» e dos «bravo».) Só assim consigo explicar que uma ária do baixo, com duas estrofes em pendant , tenha sido interrompida por intempestivos aplausos no fim da primeira estrofe, quer dizer, num ponto em que nenhuma cláusula sonora, nenhum efeito de voz, podia justificar os imprevistos aplausos. O que é que acontecera? O chefe da claque, acordando, tinha dado o seu sinal antes do tempo: foi tudo. Houve pedidos de silêncio e a ária recomeçou; mas agora o jogo já estava descoberto e quando o efeito se apresentou e o baixo se resolveu a descer à «cave», o aplauso cansado que partiu de um lugar já topograficamente suspeito não convenceu ninguém. Eugenio Montale, A borboleta de Dinard . Tradução de Armandina Puga e outros.