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Aprender a conviver com os ratos

Uma das coisas que invejo a Cioran são os passeios nocturnos com Beckett pelas ruas de Paris. Gosto de imaginar as conversas sobre palavras que não existem, as interjeições de Cioran e os silêncios de Beckett. As ruas ainda sem turistas, vazias. Também consigo ver o lixo e os ratos. Ah, os ratos.

Locais de filmagem em Paris:

Jardim de Luxemburgo, fora e dentro do gradeamento. Em frente ao liceu Montaigne.  Interior e esplanada do café Les Deux Magots . Interior do café de Flore . O café Le Saint-Claude . Interior de La Rhumerie . Le Train bleu , restaurante na estação de Lyon, O apartamento do amigo, rue du Commandant-Mouchotte . O apartamento de Marie (de Catherine Garnier), rue de Vaugirard . A boutique de Marie (de Catherine Garnier), rue Vavin. Um cais do Sena, à noite. O quarto de enfermeira nas águas-furtadas do hospital de Laennec, rue de Sèvres .  Algumas ruas do Quartier Latin .   Em Paris, Antoine de Baecque.

I wanted to ask you about Henri Michaux

Allen Ginsberg : (...) Ele era um tipo muito tímido, muito reservado, por isso o que me ficou gravado na cabeça foi aquele encontro na esquina onde os nossos quarteirões se cruzavam. Estávamos a saltitar de entusiasmo e a discutir umas cenas, espantados por estarmos ali com ele e de repente apareceu uma mulher que nos apontou a máquina fotográfica, então Michaux (percebendo que nós éramos “beatniks americanos” famosos que publicávamos na Life Magazine) disse: “Oh, esta senhora deve ser para vocês” porque era muito tímido e afastou-se (não queria ser fotografado, ou não queria ser fotografado connosco, ou pensou que talvez fosse um truque para conseguirmos uma fotografia juntos para publicidade). Senti-me um bocado… Estávamos em Paris, era o seu território, calculei que fosse uma fotógrafa francesa a tentar tirar-lhe uma fotografia por isso disse: “Bom, deve ser para si, senhor Michaux”. Mas nessa altura a mulher exclamou: “Não se importam de sair da frente? Estou a tentar fotografar e

Via de Cintura Interna

Depois da Rua das Lojas Escuras, passei para “As Avenidas Periféricas” ( Les Boulevards de Ceinture ). Manter a ligação geográfica foi boa ideia — entre as páginas 35 e 36, a propósito de vários bares, são mencionadas seis ruas e uma avenida: Rua Jean Mermoz, Avenida de Wagram, Rua Fontaine, Rua de Clichy, Rua Magellan, Rua Joubert e Rua de Hanovre. Farto-me de passear.  # O narrador em busca do pai n’as Avenidas Periféricas é um bom exemplo de MacGuffin.  # Nas últimas páginas, o livro de Modiano deixa-nos tão desamparados e tristes como Mr. Klein de Losey.

Na Rua das Lojas Escuras

Para além do mistério amnésico do narrador, Patrick Modiano entretém-se a desvendar as ruas de Paris. Logo na primeira página, por motivos paralelos à acção principal, surge a rue Vital, depois nunca mais acabam: rues ,  quais ,  avenues ,  boulevards , places , etc.. (Nota: no fim, arrumar em literatura topográfica, ao lado do Alexandre Andrade e dos mapas.) Gostava de ler o livro em Paris, em movimento — seguindo o narrador, parando nos cafés, restaurantes e hotéis mencionados. (Nota: criar um novo tipo de leitura ou crítica: em marcha, de preferência, lenta.) A alternativa pobre é usar o google maps . (Aqui apanhei um tipo a transportar uma escada numa mota e alguém colou um coração na placa com o nome da rua, pas mal .) Até agora, o meu capítulo preferido é o sexto, sobre Galina, conhecida por «Gay» ORLOW .  Gosto dele pela amplitude geográfica (alongar) e pelo estilo seco (recolher).  Também porque tem este parágrafo  (nunca citado na operação Marquês) : Em Paris, não se lhe conh

Mas, na manhã seguinte

(Depois dos espargos, do folar de azeitonas, do salmão fumado e do vinho do Douro — fórmula petisco improvisado — não me apeteceu trabalhar. Sentei-me na varanda a aproveitar o sol e a ler mais umas páginas d’ O Leão de Belfort e agora já sei demasiado, pelo que vai ser difícil defender a crítica a uma obra baseada apenas num parágrafo. Vou tentar não fugir do risco. Dentro do possível.) A questão geográfica. No excerto referido é apenas o parêntesis (ou seja, a Paris), a Rue Lemercier e o bairro de Batignolles, mas isso basta para prevermos (o plural define os leitores habituais do Alexandre Andrade) deambulações várias pela cidade, viagens de metro e autocarro. E, num salto completamente bem executado, a geografia mistura-se com a arquitectura, e entramos nas casas quase sempre pequenas e alugadas, nos quartos, nos corredores e escadas. É uma espécie de guia, mas ao contrário, em que o objectivo principal (a esperança, diria até) é desviar-nos do caminho certo. Ou, pelo menos, enc