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A mostrar mensagens com a etiqueta escritor

Filipe Guerra

Soube há instantes que Filipe Gueŕra faleceu esta madrugada. Não há leitor em Portugal que não tenha uma dívida de gratidão para com ele. Era um escritor sábio. Um tradutor atento, incansável e generoso. Traduziu , com Nina Guerra, largas dezenas de autores russos, muitos deles inéditos entre nós ou traduzidos pela primeira vez directamente da língua original. Os seus prefácios e apresentações, escritos num português límpido, sofisticado e imaginativo, são extraordinárias lições sobre a história e o ofício da literatura. Também fez traduções do francês, italiano e espanhol. Numa colecção que dirigi em tempos, editei uma antologia de contos de Alphonse Allais, que ele seleccionou, apresentou e traduziu. É dos livros de que mais me orgulho . Será lido para sempre e para sempre lembrado. [A qualidade da fotografia é péssima. Podia ter usado outra, mas esta é a minha preferida. O Filipe Guerra com o sempiterno cigarro entre os dedos. A fotografia está cortada. No original, à sua direita, e...

Estofo de escritor

X escreve-me a dizer que gostava de me enviar um jovem muito leal , com carácter, etc., para que lhe dê alguns conselhos em assuntos literários. Respondo-lhe que não lhos posso dar porque não há conselhos nenhuns; mas o verdadeiro motivo da minha recusa é que à priori é duvidoso que este jovem moralmente irrepreensível tenha estofo de escritor. — Não são as nossas qualidades, são os nossos defeitos que prometem .   Emil Cioran, Cadernos 1957-1972 

O escritor como operário

Se o meu amigo conhecesse os bastidores da literatura, saberia que o escritor é uma pessoa cujo ofício é escrever, como outros têm o ofício de construir casas. Nada mais. O que o distingue do fabricante de casas é que os livros não são tão úteis como as casas e, além disso... além disso, o fabricante de casas não é tão vaidoso como o escritor. Hoje em dia, o escritor considera-se o centro do mundo. Conta toda a espécie de patranhas. Engana a opinião pública, consciente ou inconscientemente. Não revê as suas opiniões. Acha que o que escreve é verdade só pelo facto de ter sido ele a escrever. É o centro do mundo. (...) Todos nós, que escrevemos e publicamos, fazêmo-lo para ganhar a vida. Nada mais. E para ganhar a vida não hesitamos por vezes em afirmar que o branco é preto e vice-versa. De resto, há momentos em que até nos permitimos o cinismo de nos rirmos e de nos acharmos génios... Roberto Arlt, Águas-fortes portenhas .