Na rua do Almada, mesmo em frente à Mala Voadora, há uma pequena loja de tralhas e eletrodomésticos. Na montra, quase encostados ao vidro, vi os seguintes objectos: um disco de fogão que cabe num A5, uma cafeteira para um café e até o que me pareceu ser uma máquina de café de cápsulas de bolso. Comecei por pensar que se destinavam a pessoas que vivem sozinhas, mas depois percebi que não era nada disso, estes objectos minúsculos são para as pessoas que vivem em espaços reduzidos, em quartos ou camas amontoadas em lojas ou garagens. A normalização começa assim, quando o mercado se adapta. E o mercado até gosta desta ideia de ocuparmos vivos o pequeno espaço que vamos ocupar mortos. E pagarmos muito por isso. Rende mais.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral