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Maio de 68

O que acho bonito é que durante os acontecimentos de Maio, os estudantes não recorreram a Gide, nem a Valéry, nem a Claudel, mas a Artaud , que era pouco conhecido e certamente desprezado por essas três estrelas. Emil Cioran, Cadernos 1957-1972 (junho 1968)

Papel higiénico

Há três dias que uma onda de pânico varre, sem parar, os supermercados. No nosso bairro, não há vegetais, carne, enlatados e papel higiénico. De papel higiénico, não resta a sombra de uma embalagem. As prateleiras vazias conduzem-me de novo, e por caprichosos caminhos, a Artaud. Onde cheira a merda cheira ao ser. O homem poderia muito bem não cagar, não abrir a bolsa anal, mas ele escolheu cagar tal como escolheria viver em vez de aceitar viver morto. Pois para não fazer caca precisaria de aceitar não ser, mas ele não quis optar por perder o ser, ou seja, morrer vivo. (...) Antonin Artaud, Para acabar de vez com o juízo de Deus e outros textos finais (1946-1948) . Tradução de Pedro Eiras.

Fúria

O que mais impressiona numa obra como Fúria , de Lia Rodrigues (ou Bacantes , de Marlene Monteiro Freitas), é a distância que se abre entre o palco e a plateia. É um imenso abismo. Que força diabólica nos prende à cadeira e nos impede de nos juntarmos aos bailarinos? Que força intolerável nos impede de levantar e exigir também a natureza, o nosso corpo e alma de volta? Que pudor é este, que educação é esta, que nos força a assistir, sentados, confortáveis, bem-comportados, ao que se passa no palco do mundo? Um dia após outro, sem nos mexermos, sem abrirmos a boca. O que nos impede de saltar para o palco e participar do mundo? O que que nos prende à cadeira? Esta nossa incapacidade de derrubar o muro entre a magia e a civilização de plástico em que vivemos (Artaud, outra vez) é a verdadeira violência denunciada por este espectáculo. Não participar, não erguer a voz, não saltar para a roda, e aceitar sem luta este mundo que nos propõem, é a maior das violências. Levantar o traseiro no f

A menos que fosse para insultar

Nunca fundei, lancei ou segui um movimento. Fui surrealista, é um facto, mas acho que devia sê-lo de facto, e era-o de facto mas não quando lançava ou assinava manifestos a menos que fosse para insultar um papa, um dalai-lama, um buda, um médico, um erudito, um padre, um chui, um poeta, um escritor, um homem, um pedagogo, um revolucionário, um anarquista, um cenobita, um eremita, um reitor, um iogui, um ocultista. Antonin Artaud, Para acabar de vez com o juízo de Deus e outros textos finais (1946-1948) . Tradução de Pedro Eiras.