A Térmita é a livraria mais cinematográfica que conheço. Não é só uma questão de livros, aquele sítio mantém intacto o passar do tempo — basta olhar para os tectos, para as paredes, para os caixilhos das portas a descascar. Entra-se por um corredor escuro e lá dentro o espaço tem uma forma estreita e alongada que lhe dá uma atmosfera de coisa proibida (uma espécie de Budapeste para intelectuais solitários, diz a caixa de luz e o holofote vermelho sobre a porta ou as manchas de humidade). E por causa das ligações ao Candelabro, há uma pequena cozinha bem visível onde às vezes se trabalha e uma garrafeira escondida. Tudo pode acontecer ali; principalmente um filme de Hong Sang-Soo.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral