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A mostrar mensagens com a etiqueta Simone Weil

Esse breve intervalo entre o impulso e o acto

Se à nascença todos estão destinados a sofrer a violência, a influência das circunstâncias fecha os espíritos dos homens a essa verdade. O forte nunca é absolutamente forte, nem o fraco absolutamente fraco, mas ambos o ignoram. Não se crêem da mesma espécie; nem o fraco se considera semelhante ao forte, nem é considerado como tal. Aquele que possui a força caminha num meio não resistente, sem que nada na matéria humana em seu redor seja de natureza a despertar esse breve intervalo entre o impulso e o acto, onde se abriga o pensamento. Onde o pensamento não tem lugar, também não o têm a justiça nem a prudência. É por isso que estes homens armados agem com dureza e com loucura. A sua arma crava-se num inimigo desarmado, de joelhos; triunfam sobre um moribundo descrevendo-lhes os ultrajes que o seu corpo irá sofrer; Aquiles degola doze adolescentes troianos na fogueira de Pátroclo tão naturalmente como nós apanhamos flores para uma campa. Simone Weil, A  Ilíada  ou o poema da for...

Longe dos banhos quentes

Sem dúvida, o infeliz estava longe dos banhos quentes. Não era o único. Quase toda a Ilíada se passa longe dos banhos quentes. Quase toda a vida humana se passou sempre longe dos banhos quentes. A força que mata é uma forma sumária, grosseira, da força. Quão mais variada nos seus procedimentos, quão mais surpreendente nos seus efeitos, é a outra força, a que não mata; quer dizer, a que não mata ainda. Vai matar de certeza, ou vai matar talvez, ou então está apenas suspensa sobre o ser que a qualquer momento pode matar; de qualquer das formas, converte o homem em pedra. Do poder de transformar um homem em coisa fazendo-o morrer procede outro poder, muito mais prodigioso, o de fazer uma coisa de um homem que continua vivo. Está vivo, tem uma alma; no entanto é uma coisa. Que ser tão estranho, uma coisa que tem uma alma; estranho estado para a alma. Quem poderá dizer como ela tem de torcer-se e dobrar-se sobre si mesma a toda a hora para se submeter? Não foi feita para viver numa coisa;...

Servos

Leio no Fragmento XXI de A Amizade , de Simone Weil: «O pastor é servo das ovelhas.» Sigo um daqueles rastros deixados na memória e regresso a Un Chant d'Amour , do Genet. Também o polícia da prisão é servo do seu desejo solitário e oculto. Prisioneiro de si próprio, da sua carne, procurando desesperadamente uma saída. É o menos livre dos personagens.