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Segunda-feira, 1 de junho de 1953.

Com o mês de junho, vêm também as tristezas e a melancolia.  Diário de Ozu

Revelações japonesas

Como estava sozinha em casa, e para adiantar trabalho, ontem à noite resolvi rever "O Gosto do Saké" ( Sanma No Aji ). Não via um filme de Ozu desde que a minha mãe morreu há quase quatro anos. Agora percebo porquê, deve ter sido um desses mecanismos do instinto que nos defendem de emoções demasiado intensas.  A meio desisti, por excesso de tristeza e também porque percebi que, por mais que tenha escrutinado o filme no passado, não apanhei o principal: o casamento de Michiko é apenas um pretexto para outra coisa mais profunda e mais dolorosa, e está tudo lá (como as montanhas de Cézanne) — nós é que nem sempre estamos preparados para ver. 

Deixa a tristeza sair

Não há em português uma expressão com a força de avoir le cafard  e não se percebe porquê — tristeza não nos falta. Podemos traduzir por estar triste, tristonho, destroçado, sorumbático, macambúzio, ou até mesmo “em baixo” — mas falta qualquer coisa. Um substantivo vulgar (como a barata francesa) ou um adjectivo musical (como o azul inglês), uma palavra sem grande reputação mas que sozinha consiga mostrar o buraco em que caímos e que estimule a matéria semântica (ganhar musgo).  Qual? Talvez “na fossa”? Tem uma força sensorial formidável, é certo, e Cioran até era capaz de gostar da imagem, mas não encaixa nos seus aforismos (lamentável desencontro geográfico). Fica para a próxima.
François Bondy: Como é que conseguiu este apartamento no sexto andar, com esta vista magnífica sobre os telhados do Quartier Latin? Emil Cioran: Graças ao snobismo literário. Já há muito tempo que estava farto do meu quarto de hotel na rua Racine e pedi a uma agente imobiliária que me procurasse qualquer coisa, mas ela não me mostrou nada. Então enviei-lhe um livro que acabara de publicar, com uma dedicatória. Dois dias depois trouxe-me aqui, onde a renda — acredite ou não — é de cerca de cem francos, o que corresponde aos meus meios de subsistência. Com as dedicatórias de autor é assim. A sessão de autógrafos na Gallimard, sempre que um livro é publicado, é uma coisa que me aborrece e uma vez esqueci-me de assinar metade dos livros. Nunca tive tantas críticas más. É um rito e uma obrigação. Nem Beckett pode escapar a isso. Joyce nunca o conseguiu entender. Disseram-lhe que em Paris um crítico espera sempre uma carta de agradecimento do autor quando diz bem dele. Uma vez ele concor