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Epitáfio

Perdi-me em Lisboa à procura do Palácio Sinel de Cordes. Fartei-me de andar e quando subi as escadas e entrei na sala 1. Remakes estava exausta. Talvez o cansaço tenha influenciado o que me aconteceu: mal me sentei e olhei para as telas e ouvi a voz de Godard parecia que o coração ia saltar e não consegui segurar as lágrimas. — Caramba, isto é um Epitáfio! O ritmo das imagens e sobreposições, as telas ondulantes, os sons, os pequenos candeeiros de luz ténue, os livros, o sofá, o tapete, os pedaços de textos, as reproduções dos quadros, os cordéis vermelhos e a escuridão. A escuridão.  La guerre est là .   Fabrice Aragno transformou   Le livre d’image num lago profundo onde não paramos de cair. Estava sozinha, chorei de sala em sala. Passei mais de duas horas no velho Palácio arruinado e no jardim, mas foi pouco. Precisava de lá voltar. De noite, como me disse o Andy.  Exposição: “Éloge de l’image – Le Livre d’image”, Jean-Luc Godard  (1. Remakes, 2. Les Soirées...

Mundo interior

Como funciona o pensamento? Que som tem a nossa «voz interior»? Que cor têm as imagens que passam dentro da nossa cabeça? E passam a que velocidade? O pensamento é o nosso cinema interior. Terno e terrível, belo e assustador, apaixonado e assassino. Em todo o caso, um cinema que não pertence ao mundo, impossível de resistir fora da cabeça. O Livro de Imagem é o colossal combate de Godard contra essa impossibilidade. Durante uma hora e meia, o realizador procura mostrar a mecânica do seu pensamento. A tela transforma-se no espelho de tudo o que ocorre no interior da sua cabeça: palavras e imagens. Apenas isto. E isto , que em literatura não é novidade, é muito mais do que qualquer outra coisa que já tenha sido tentada em cinema.