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Vermelho dos bombeiros

Não me importo de ver os filmes de Kaurismäki em casa, na televisão que não tem mais de cinquenta e tal centímetros de largura. Pode-se beber e fumar e isso ajuda a compreender o filme, seja ele qual for. Principalmente (assim espero, em breve, tipo espelho perverso)  uma coisa de câmara, à Bergman, com gente sentada no sofá .  Onde não consigo imaginar os seus filmes é nos festivais internacionais, nesses circuitos de vaidades, poses e frases complicadas e tão vazias, oh! Por isso é que ele compensa esse aborrecimento nas entrevistas , sempre muito divertidas. Kippis! Claro que o melhor sítio para os filmes de Kaurismäki, pelo menos onde gosto de os imaginar, é nos Bombeiros de Viana do Castelo (já não me lembro quando, por isso é sempre), projectados para uma data de miúdos entusiasmados. O Hugo contou-me esta história e eu transformei-a em imagens cheias de coisas vermelhas e cadeiras velhas. Pode-se levar o cão. Desnos também havia de gostar.

Natal dos bombeiros

À entrada do quartel da Constituição, os bombeiros instalaram um velho jipe decorado com luzes, fitas e pendentes de Natal. O carro é puxado por quatro renas de plástico, de tamanho quase real. Sentado no capô, um vigoroso manequim, daqueles que se vêem nas montras das lojas de moda, vestido de Pai Natal. Com a chuva, as barbas deslizaram pelo queixo e pingaram, como um trapo sujo, até ao pescoço. O vento arrancou o nariz vermelho do Rudolfo.