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Novos Rimbaud

Qualquer ignóbil detentor de farta conta bancária, qualquer filho de oficial, qualquer rebento de burocrata, qualquer um desses felizes parvalhões a quem se oferece uma mota pelo Natal, qualquer aborto educado em papel de seda, todos têm como coisa infalível serem novos Rimbaud e que o eu deles é também um outro. Tudo quanto passa a vida à espera da herança fala em sumir-se um dia. (...) O que estudo para já neste fenómeno é a grande comodidade antipoética do rimbaudismo contemporâneo. Porque a antipoesia deixou de ser uma quimera dialéctica. Materializou-se, em tempo desportivo tornou-se sistema, dispõe até de fundamentos metafísicos em caso de necessidade. Louis Aragon, Tratado do estilo . Tradução de Júlio Henriques.

Duvido de que alguma vez tivesse chegado a escrever uma linha

Ao olhar para Rimbaud vejo-me ao espelho. Nada do que diz me é estranho, por mais feroz, absurdo ou difícil de perceber que seja. Para compreender é preciso dispormo-nos a um acto de rendição, e recordo-me perfeitamente dessa rendição no primeiro dia em que olhei para a obra de Rimbaud. Nesse dia, há pouco mais de dez anos, li apenas algumas linhas e, tremendo como uma folha ao vento, pus o livro de lado. Tive nessa altura a sensação, e ainda a tenho, de que ele tinha dito tudo o que há para dizer no nosso tempo. Era como se ele tivesse colocado um telhado sobre o vazio. É o único escritor que li e reli com um prazer e uma excitação que nunca diminuíram, encontrando nele sempre qualquer coisa de novo, sempre tocado profundamente pela sua pureza. Seja o que for que diga dele há-de ser sempre aproximativo, sempre uma tentativa, no melhor dos casos um aperçu . É o único escritor cujo génio invejo; todos os outros, por maiores que sejam, nunca despertaram em mim inveja. E acabou aos dezan