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O medo devora tudo

Fomos rever O Medo Come a Alma , de Fassbinder. Não é uma obra de ficção criada em 1973, mas um comentário sobre Portugal e a Europa, em Março de 2024. Numa entrevista a Hans Günther Pflaum (Fevereiro de 1974), e a propósito deste filme, Fassbinder diz: «Mais cedo ou mais tarde, os filmes devem deixar de ser filmes, deixar de ser histórias, para se tornarem reais.»

Asco

Não tenho palavras para expressar o asco que a reportagem sobre a violência racista de polícias e militares da GNR, publicada ontem no jornal , me provocou. Asco, asco, asco. Asco até à última das minhas células. Não sabia que Mamadou Ba vive hoje no Canadá. Teve de sair do país e da sua cidade para conseguir «respirar», e proteger a própria vida. Não sei o que dizer. Nós continuamos por aqui, mas é como se vivêssemos num país de conto de fadas. Um dos mais seguros do mundo. O país onde não há racismo nem nunca houve. Onde ninguém é racista. Asco.

Devir-negro do mundo

O que há de novo neste momento é o que Achille Mbembe chamou de devir-negro do mundo , isto é, quando a condição da população negra se torna padrão de vida e se generaliza por toda a sociedade. Não à toa as polícias estão encontrando tanta dificuldade em desfazer aglomerações, afinal, não se chega em toda festa da maneira que se chega num baile funk, batendo, esculachando, prendendo e até matando, como nos lembra o massacre de Paraisópolis no já longínquo 2019. Aline Passos.