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A casa no meio da floresta

Ainda não comprei “As peças que faltam” de Henri Lefebvre. Por preguiça, mas também pela diversão de ir juntando itens à lista (no desconhecimento). Acabei de acrescentar as “Investigações Filosóficas”, de Ludwig Wittgenstein, em verso. A verdadeira casa no meio da floresta.

Beep beep

“As observações filosóficas deste livro são comparáveis a um conjunto de esboços paisagísticos surgidos ao longo destas enredadas e longas viagens” — escreve Wittgenstein no prólogo das Investigações. O esplendor da natureza parece uma proposta aprazível. Wittgenstein não nos avisa, porém, que a paisagem é uma sequência de desfiladeiros.

Técnicas de distracção

Os erros de leitura nem sempre são errados . Li “cada frase tem uma detonação” e só ao chegar ao fim do parágrafo é que percebi que a palavra impressa era “denotação”. Faz mais sentido, é verdade, mas às vezes vale a pena inserir algum estardalhaço no texto — nem que seja para distracção.

“Apontar para uma coisa com a atenção”

O fragmento 275 das Investigações Filosóficas é inebriante. Wittgenstein escreve céu azul (podia ser rosa vermelha, mesa de trabalho, flor amarela) e parece que estamos no jardim infantil a brincar com cubos e triângulos. Depois pega num pau de giz e traça uma linha no chão junto aos nossos pés; do outro lado está tudo o que não nos ocorrerá pensar . Afinal não é uma brincadeira (adeus Alice); é uma prova de esforço. Ficamos com uma vontade danada de saltar o risco. Não basta um passo. É necessária uma equação.

275

Olha para o azul do céu e diz a ti próprio: “Que azul que está o céu!” Se fizeres esta experiência espontaneamente — sem intenções filosóficas — então não te ocorrerá pensar que esta impressão cromática pertence apenas a ti . E não tens qualquer hesitação em te dirigires, com esta exclamação, a uma outra pessoa. E se, ao pronunciá-la, apontas de todo, então apontas para o céu. Quero eu dizer que não sentes que apontas para-ti-próprio, o que muitas vezes acompanha o “dar o nome à sensação”, quando se reflete sobre a “linguagem privada”. Também não pensas que não deves apontar para a cor com a mão, mas sim com a atenção. (Medita sobre o que é “apontar para uma coisa com a atenção”). Investigações Filosóficas, de Ludwig Wittgenstein. Tradução de M. S. Lourenço. Edição da Fundação Calouste Gulbenkian. Setembro de 2002.

No futuro seremos todos filósofos

Ler as “Investigações Filosóficas” de Wittgenstein é capaz de ser a experiência que mais nos aproxima da aprendizagem dos sistemas de inteligência artificial. Mesmo praticando uma leitura superficial e aleatória, sentimos uma espécie de corrente eléctrica a atravessar os pensamentos. No futuro seremos todos filósofos.

Platte!

Práticas diletantes em ambiente germânico

Consigo compreender a linguagem em ponto morto ou de férias , mas custa-me vê-la como uma caixa de ferramentas . Tenho uma noção bastante sólida da palavra “ferramentas” (martelo, alicate, serra, chave de fendas); imagino-a pesada ou afiada e não encontro essas propriedades na linguagem, nem sequer no alemão. A linguagem cotidiana descamba sempre — tem uma consistência gelatinosa tipo pega monstro. Por isso leio as investigações de Wittgenstein essencialmente como lances místicos. Transformar a linguagem em ferramenta, ou até mesmo arma, para desactivar a filosofia talvez seja possível mas só depois de levitar um bocadinho. Quanto?