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Demonstração de efeito estroboscópico

Imaginem o encontro de Ludwig Wittgenstein com Emily Dickinson. Na floresta. Ainda é madrugada. Emily está sentada num banquinho na direita alta. Junto aos pés, uma caixa com duas tesouras, post-it amarelos, canetas de várias cores, um rolo de papel celofane, uma carteira de fósforos. Ludwig entra pela esquerda baixa a assobiar uma canção de Betty Hutton. Nada de camisas brancas. Os dois vestem roupa de trabalho de tons neutros e calçam botas robustas ( para atravessar pontes com fissuras ). Ludwig traz uma garrafa termos no bolso do casaco. O centro está assinalado por um X riscado no chão. Começa a função:

A casa no meio da floresta

Ainda não comprei “As peças que faltam” de Henri Lefebvre. Por preguiça, mas também pela diversão de ir juntando itens à lista (no desconhecimento). Acabei de acrescentar as “Investigações Filosóficas”, de Ludwig Wittgenstein, em verso. A verdadeira casa no meio da floresta.
“Quem anda de cabeça para baixo, minhas Senhoras e meus Senhores, quem anda de cabeça para baixo tem o céu como abismo por baixo de si.”  O parágrafo de Rogério Casanova (do post anterior) é bom para percebermos como Robert Walser, ao passar por essa situação de lugar comum, coisa que acontece com muita frequência, toma um atalho que o leva directamente para o centro da floresta. Walser não se entretém a desfazer o discurso, não dá passos para a frente e para trás, não se arma em irónico ou nostálgico, livra-se de todos esses artifícios com um “sim”: aceita a banalidade, utiliza a frase digna de uma personagem de Barbara Cartland conforme ela é num mundo de novo inocente — porque, ao contrário de Lenz, Walser consegue a proeza de andar sobre a cabeça quando quer — e tremendamente inquietante (como o branco assustador das aventuras de Arthur Gordon Pym).  “Amo-a loucamente” pode dizer uma personagem de Walser. E é tudo verdade. Como nunca antes.

O centro e a periferia

Na literatura, a floresta está por conta dos escritores de língua alemã. (Esta afirmação não é completamente verdadeira, mas também não é completamente falsa.) O problema dos escritores de língua alemã, um dos problemas, melhor dizendo, é o excesso de intensidade (continuamos no limbo das opiniões imprudentes): entram na floresta e querem ir logo para o centro, querem sempre qualquer coisa profunda e geométrica. Holden Caulfield, pelo contrário, não sabe bem o que quer, mas quando decide ir embora, decide ir para o Oeste, fingir que é surdo-mudo e construir uma pequena cabana "mesmo na borda da floresta, mas não na floresta, porque queria ter sempre o máximo de sol". A floresta sombria nas costas, o sol de frente — ou vice-versa. O plano é inteiramente perfeito e até necessário, mas chegar a esse sítio é mais difícil do que chegar ao coração da floresta. A verdade é que Salinger pirou-se e Holden foi parar a um sanatório. Cristina Fernandes.