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O metro parou

Ontem à tarde caiu uma árvore sobre a linha do metro. A circulação esteve interrompida durante algum tempo na linha amarela. Quando saí do trabalho, centenas, milhares de pessoas subiam e desciam a pé a Avenida da República. Ninguém parecia incomodado ou impaciente. Tenho mesmo a impressão de ter visto muitas delas a sorrir enquanto caminhavam ao longo da avenida. Seria de mim? Tudo me fazia lembrar as imagens da revolução.

Evidência material

Por desleixo, nunca levei a cabo a ideia de recolher títulos de notícias menores (a minha versão de filmar um engarrafamento numa rua de Paris). Arrependo-me sempre que vejo um bom exemplar. Hoje foi no JN: Pirotecnia não sabe o que fazer "com tanta pólvora" . É evidente que podiam fazer uma revolução.

Os Vermelhos

- (...) Estes Vermelhos, e os da Confederação Geral do Trabalho, e quejandos... porque não fazem a sua revolução? Porque temem o resultado. Não têm medo de enforcar todos os capitalistas e outros que tais; mas assustam-se à ideia de pôr depois a máquina em movimento. Assustam-se mortalmente. - Sorriu e soltou uma risadinha. - Nada os aflige tanto como a circunstância de manter a ordem após a bernarda. Por isso nunca vieram para a rua. E nunca virão, a não ser que alguém os empurre. Assim, inventaram este estribilho: faça-se a mudança gradualmente, através de vitórias políticas. Ora isto não é revolução. Conserva-se tudo na mesma, com uma pequena diferença, tão pequenina que nem sequer se nota.   - É a pura verdade - volveu Richard. - Ninguém receia mais a revolução vermelha dos que os próprios Vermelhos. Aterrorizam-se. D. H. Lawrence, Canguru . Tradução de Cabral do Nascimento.

Revolução

Chega sempre um dia em que as coisas mudam, explica o personagem Rublev, no epílogo do monumental O caso do camarada Tulaev , de Victor Serge. A Revolução é uma aventura e um risco. «Para o mundo exterior, tão sedento de estabilidade», manter em aberto a grande pergunta sobre o sentido da vida é uma audácia demasiado perigosa. «[Nós, os revolucionários de 1917,] exigíamos a coragem de prosseguir as façanhas, mas o povo queria segurança, descanso, esquecer o esforço e o sangue.» Robert Kramer diz qualquer coisa bastante parecida em Outro País , o filme de Sérgio Tréfaut sobre o 25 de Abril: «É uma situação muito perigosa, assustadora, caótica, que nos pode explodir na cara. Historicamente, a riqueza da experiência humana é elevada por esses momentos. São muito instáveis. Aparentemente, as pessoas não aguentam viver assim por muito tempo.» No ciclo cardíaco, uma sístole é seguida de uma diástole. E depois de uma diástole vem necessariamente uma sístole. Em que ponto da história estamos...

Revolução

— A frase que Alberte diz em  Le Diable probablement : "Não haverá revolução. É demasiado tarde." ( Il n'y aura pas de révolution. C'est trop tard .) pode ser substituída por: "Não houve revolução. É demasiado cedo." ( Il n'y a pas eu de révolution. C'est trop tôt .) Basta rodar um bocadinho o eixo do tempo. — Não num filme de Bresson. — Não. Apenas fora do cinema.

Revolução

A ideia é revolucionária. O automóvel é revolucionário. O detergente para a roupa é revolucionário. Os produtos para o cuidado da pele são revolucionários. Os champôs para a queda do cabelo também. Os produtos financeiros são revolucionários. Os bancos são revolucionários. As conferências, palestras, seminários e workshops são revolucionários. O último disco de Lady Gaga também é revolucionário. Aquele canal de TV é revolucionário. Qualquer discurso de Marcelo Rebelo de Sousa é revolucionário. O Papa Francisco é absolutamente revolucionário. A revolução é revolucionária. A revolução é tão revolucionária como o mais revolucionário dos produtos de marca branca do Pingo Doce.

A origem da revolução

O [café] "Rã Verde" possuía um certo passado histórico, porquanto se dizia que ali nascera a revolução de 1848. Tal era, noite após noite, o tema da conversa dos frequentadores habituais, que nas diversas mesas se interrogavam se a revolução não teria sido consequência do vinho ligeiramente ácido que o patrão daquela época servia aos seus clientes, ou se teria sido devida a outras causas. Gustav Meyrink, A Noite de Walpurgis . Tradução de Maria Teresa Antunes Cardoso.