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Tudo se fora

Olga Ivanovna torna a falar-me da família, acrescentando novos pormenores, sobretudo acerca do avô Nikolai. Tinham conseguido conservar a preciosa biblioteca do tio Vladimir. Os «homens de casaco de cabedal» tinham examinado todos os livros à procura de obras proibidas e tinham levado algumas. Mas o avô conseguira salvar o principal, escondendo os livros numa cova e cobrindo-os com um encerado. Guardava-os à espera que Volodia regressasse um dia. «Há-de precisar deles.» Quando se tornou evidente que Vladimir já não era deste mundo, começou a vendê-los um a um, pressionado pela miséria. Chorava ao vê-los partir. Quando voltou do campo já não tinha nada. «Tudo se fora» Predrag Matvejevitch, Epistolário Russo . Tradução de Pedro Tamen.

Mas publicaram Safo?

Ouvi dizer que Mandelstam respondeu nestes termos irónicos a um jovem escritor que se lhe queixava [de não ser publicado]: «Mas publicaram Safo? E as obras de Cristo foram impressas?» Entre aqueles que não são publicados, há os que verdadeiramente não o merecem ser. Certos livros «não passam», e ainda bem. Na literatura dissidente há muitas vezes (por muito penoso que nos seja admiti-lo) mais dissidência que literatura. Tudo isto não divide apenas a literatura enquanto tal, mas igualmente as forças criativas e espirituais de que decorre. Predrag Matvejevitch, Epistolário Russo . Tradução de Pedro Tamen.