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Saint Omer, de Alice Diop

Laurence Coly é uma infanticida confessa. Abandonou a filha de quinze meses uma noite, numa praia do norte de França, durante a maré alta, para que o mar a engolisse. O pequeno corpo sem vida deu à costa pouco tempo depois, sendo descoberto por um pescador. Quando o julgamento começa, a juíza pergunta a Laurence por que razão matou a filha. Ela diz que não sabe e que espera que o julgamento a ajude a encontrar uma resposta. Nesse exacto momento, o filme entra em absoluto estado de graça. Sai da treva e entra na luz, sai da luz e cai num abismo. O princípio e o fim unem-se no mesmo ponto: o coração do mistério. O filme é sobre essa esperança, alimentada por um medo que vem do fundo dos tempos, de um dia encontrarmos uma resposta, compreendermos qualquer coisa.

Via delle Botteghe Oscure

A rua das Lojas Escuras é referida pela primeira vez na página 133, numa ficha de informações de Jean-Pierre Bernardy: derradeira morada conhecida de STERN, Jimmy Pedro, corrector, oficialmente desaparecido em 1940.  Na última página do livro, não conseguindo encontrar Freddie numa das ilhas da Polinésia, o narrador percebe que só lhe resta voltar à sua (?) antiga casa em Roma, na rua das Lojas Escuras, nº 2.  Mas o mistério do narrador é empurrado para fora de campo — e isso revela-se uma óptima estratégia de Modiano. Até porque a via delle Botteghe Oscure — como é bonita a sua denominação original — é, ela própria, rica em histórias ocultas e inacabadas.

O mistério

Um manto de silêncio abateu-se sobre os supostos avanços na produção de uma vacina. Há semanas que não há notícias relevantes sobre o assunto. Mil laboratórios numa roda-viva. E, no entanto, o vírus continua sem revelar o seu segredo. O mistério recuperou o seu lugar no mundo. O mistério que nos perturba tão profundamente e que é tão humano como a crença no poder da ciência. É tudo tão velho e tão novo ao mesmo tempo.

Outro que tal

Por mais mais voltas que dê, não consigo descrever Franz Polzer. Posso arrumá-lo na secção pobres diabos , sim, mas tem de ficar num quarto incomunicável porque essa categoria não permite nem diálogo nem irmandade. Tudo o que pode ser dito sobre Polzer, está escrito n’ Os Mutilados — o resto são interpretações de segunda, discursos frágeis, variações menores. O grande passo da literatura é a capacidade de transformar palavras e personagens, coisas intangíveis por natureza, em objectos únicos. Uma obra literária é como uma árvore ou uma pedra — guarda o mesmo mistério. Não se deixa apanhar.