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A mostrar mensagens com a etiqueta Daniil Harms

Ponto de situação

O que se sabe, com segurança, sobre o vírus? Sabe-se que pode ser fatal, que em alguns casos provoca sintomas graves, noutros apenas ligeiros e, noutros ainda, não provoca sintomas nenhuns. Pode acontecer tudo, incluindo nada. Exactamente como numa história de Daniil Harms.

As águas do Neva

Dovlatov prova (como se fossem precisas provas; mas eu tinha de começar o texto por algum lado...) que o absurdo não é uma distorção caprichosa da realidade, mas a própria realidade. Os episódios biográficos que descreve em «O livro invisível» mostram que as histórias de Daniil Harms , por exemplo, são tão plausíveis como uma mosca no tecto ou um pedacinho de madeira a flutuar nas águas do Neva.

Da garrafa saem vapores espirituosos

São trinta páginas. Facilmente poderíamos dizer que "Três horas esquerdas" de Daniil Kharms é um livro pequeno, ou até um livrinho. Desenganem-se, o tamanho é um embuste (de Daniil Kharms, sempre; da editora Flop só para começar), e diminutivos não servem à obra. Os textos de Kharms — é assim que o vou nomear por causa do "h" aspirado, dos tormentos, do charme e de Sherlock Holmes (ler explicação na valiosa apresentação feita pelo tradutor Júlio Henriques) — são densos, quimicamente densos, isto é: em cada um dos 14 textos que compõem o livro há muita matéria concentrada. Kharms é perigoso e escreve como quem lança bombas; desde a primeira palavra, tudo aponta para o desastre — um desastre formidável mas também bastante cómico. E desagradável; desagradável é uma propriedade que Kharms usa como se fosse uma écharpe esvoaçando enquanto ele conduz um descapotável vermelho em excesso de velocidade (é curioso como estas histórias nos deixam impressões visuais tão for...